A residência médica é um dos caminhos mais escolhidos para a especialização médica no Brasil. Instituída pelo Decreto nº 80.281/1977 e regulamentada pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), essa etapa formativa tem ganhado relevância crescente entre estudantes e recém-formados. No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), ela assume papel estratégico: forma especialistas e fortalece a assistência em regiões e áreas prioritárias.
Com acesso via processos seletivos públicos e bolsas financiadas com recursos federais, os programas de residência vinculados ao SUS oferecem formação prática, intensiva e supervisionada em instituições públicas de saúde.
Estrutura dos programas e papel das instituições
A maioria dos programas de residência médica no Brasil está vinculada direta ou indiretamente ao SUS. Isso significa que os médicos-residentes atuam predominantemente em hospitais públicos, Unidades Básicas de Saúde (UBSs), ambulatórios e centros de referência vinculados à rede pública.
Esses programas funcionam em instituições federais, estaduais e municipais, como universidades públicas, hospitais universitários, institutos especializados e hospitais gerais de grande porte.
Também há programas geridos por secretarias estaduais e municipais de saúde, a exemplo da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ) e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), que coordenam residências médicas com foco territorial e assistencial.
Além disso, os residentes atuam com supervisão constante de preceptores e médicos do serviço, cumprindo uma carga horária semanal de 60 horas, sendo até 24 delas destinadas a atividades teóricas, segundo a Resolução CNRM nº 2/2006.
O modelo é considerado o mais próximo da formação em serviço, onde o aprendizado se dá majoritariamente na prática assistencial.
Contrapartidas e vínculo com o SUS
Embora a residência não imponha vínculo empregatício formal, ela representa uma contrapartida importante para o sistema público de saúde. O residente integra as equipes assistenciais, presta atendimento direto à população e participa de ações de vigilância, promoção e recuperação da saúde.

Em determinadas situações, o Ministério da Saúde pode estabelecer termos de compromisso para garantir que o egresso atue por um período mínimo em regiões prioritárias, como ocorre em editais com financiamento especial.
Bolsas e financiamento
A bolsa de residência médica SUS é paga com recursos do Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação (MEC). O valor mensal bruto é de R$4.106,09 desde o último reajuste oficial.
Em programas com dedicação exclusiva e carga horária intensa, esse valor é a principal fonte de renda dos residentes, que não podem exercer outras atividades médicas remuneradas durante o período.
Há ainda incentivos adicionais, como auxílio-moradia e alimentação, oferecidos por algumas instituições. Em estados como o Maranhão, Pará e Amazonas, o pagamento de bolsas complementares tem sido utilizado para atrair médicos para regiões mais afastadas e com maior demanda.
Áreas prioritárias e interiorização
A Política Nacional de Residência em Saúde, lançada em 2005 e revisada em anos posteriores, estabeleceu diretrizes para estimular a abertura de vagas em especialidades de maior relevância para o SUS, como Medicina de Família e Comunidade, Psiquiatria, Clínica Médica e Pediatria.
Essas áreas são consideradas estratégicas porque concentram a maior parte da demanda da atenção primária e secundária em saúde. Nos últimos anos, programas como o Pró-Residência e o Mais Médicos viabilizaram a interiorização da residência médica, financiando a criação de vagas em municípios com baixa densidade médica.
Formação pelo SUS
A formação especializada pelo SUS enfrenta desafios estruturais, como a sobrecarga de preceptores, infraestrutura precária em algumas unidades e defasagem da bolsa. No entanto, segue como eixo central da política nacional de formação médica.
Com a possível unificação do Enare e do Enamed a partir de 2026, a tendência é que o acesso à residência pelo SUS se torne ainda mais regulado e transparente.Para os estudantes do ciclo clínico e recém-formados, compreender o funcionamento da residência médica SUS é essencial.
Afinal, a escolha da especialização médica passa não apenas pelo prestígio da área, mas pelo compromisso com a saúde coletiva e a equidade no acesso. Em suma, a residência pelo SUS forma especialistas enquanto fortalece o sistema público. É uma via de mão dupla: o residente aprende, se especializa e, ao mesmo tempo, serve à população brasileira.
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