“Já enfrentamos uma situação de evasão escolar, de total falta de apoio, de exclusão digital e agora isso. Não estamos entendendo nada. Poderemos entrar numa faculdade? Ou irão nos tirar isso também? O MEC precisa ser claro e responsável com nosso futuro, que é também o futuro do Brasil”.
As palavras da presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES –, Rozana Barroso, ecoam o desalento de milhares de jovens brasileiros diante do adiamento de um sonho: o de ingressar no ensino superior por meio do Programa Universidade para Todos – Prouni – ou do Fundo de Financiamento Estudantil – Fies.
Por decisão recente do Ministério da Educação, os estudantes que farão o Exame Nacional do Ensino Médio – Enem – pela primeira vez, no próximo mês de janeiro, não poderão utilizar as notas para concorrer às vagas do Prouni e Fies. As inscrições para os programas de acesso ao ensino superior acabam em janeiro; os resultados do Enem serão liberados somente em março. A medida representa um entrave à vida acadêmica, sobretudo, para quem almeja estudar Medicina e tem nesses programas a única chance de ingressar numa instituição de ensino superior particular. A espera pode ser longa, visto que muitas dessas IES só têm autorização para realizar um processo seletivo por ano.
Segundo o fundador do portal Melhores Escolas Médicas, Lucas do Vale, a estimativa é de que cerca de 5 mil estudantes sejam prejudicados com a medida.
“O prejuízo é grande, pois muitos alunos contavam com o benefício do Fies ou do Prouni para dar continuidade aos estudos, caso não fossem aprovados em uma instituição pública. Com a medida do MEC, muita gente que sonhava entrar no curso de Medicina por meio desses programas terá que adiar ainda mais o sonho”, comenta.
Instrumentos fundamentais para a democratização da educação no Brasil, o Fies e o Prouni permitem o acesso de estudantes de baixa renda aos bancos universitários. Muitos desses jovens são os primeiros da família a ingressar no ensino superior. Lucas observa que o número de alunos nessas condições tende a aumentar por conta da pandemia do Covid-19. “Hoje temos os grandes índices de desemprego, a redução na renda familiar e tudo isso faz com que mais pessoas passem a ficar elegíveis para concorrer às bolsas do Fies e Prouni. Isso deve acirrar a concorrência num cenário de busca por essas vagas”, pondera.
Por outro lado, Lucas do Vale também ressalta que a medida do Governo Federal pode ser benéfica para alguns estudantes que já fizeram o Enem em edições anteriores e poderão apresentar as notas.