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Intoxicação por metanol em bebidas adulteradas causa mortes em SP; especialistas explicam como identificar os sintomas

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Descubra os riscos da intoxicação por metanol. Saiba quais sintomas de alerta e como identificar bebidas adulteradas antes que seja tarde.

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O Brasil já soma 195 notificações de intoxicação por metanol associado ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, de acordo com o Ministério da Saúde. São Paulo concentra a maioria dos registros, com 162 notificações, sendo 14 casos confirmados e outros 148 ainda em investigação.

Além de São Paulo, há suspeitas em Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Paraná, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

Diante do avanço e da gravidade da situação, o Ministério da Saúde reforçou as orientações de vigilância e alerta para os riscos do consumo de bebidas sem procedência comprovada e criou uma Sala de Situação para monitorar o surto, articulando ministérios e agências como a Anvisa, Justiça e Saúde.

A Anvisa intensificou ações de fiscalização, solicitou fornecedores internacionais para fornecimento emergencial de antídotos como o fomepizol e articulou a produção de etanol farmacêutico em farmácias de manipulação.

O que é o metanol e como age no organismo?

O metanol (álcool metílico) é um composto químico utilizado como solvente e componente industrial. Quando ingerido, ele é metabolizado no fígado em formaldeído e, posteriormente, em ácido fórmico, substâncias tóxicas para o sistema nervoso central e para a retina. Pequenas quantidades podem causar danos graves.

Estudos indicam que apenas 10 mililitros de metanol puro podem provocar cegueira permanente, e uma dose em torno de 100 mililitros pode ser fatal.

Ao contrário do etanol, que a maioria das bebidas contém, o organismo não consegue neutralizar com segurança os metabólitos do metanol.

Como identificar os sintomas causados por intoxicação por metanol?

A médica Olyvia Spontan orienta sobre como diferenciar uma ressaca comum de uma intoxicação por metanol.

Segundo ela, os primeiros sinais podem surgir já nas primeiras seis horas após o consumo da bebida, incluindo sintomas inespecíficos que lembram uma ressaca. “Os sintomas visuais costumam aparecer em torno de seis horas. Já os sinais mais graves, em geral, surgem entre 12 e 24 horas após a ingestão”, explica.

Órgãos de saúde do estado de São Paulo deflagraram ações de inspeção e investigação em pontos de venda sob suspeita de adulteração de bebidas alcoólicas. – Foto: Divulgação/ Governo do Estado de São Paulo

Nesse intervalo, começam a se manifestar alterações mais específicas, como visão borrada, manchas no campo visual e dor ocular. Em estágios mais avançados, podem ocorrer confusão mental, convulsões, depressão respiratória e até coma.

A complicação mais frequente em longo prazo é a redução da acuidade visual, podendo evoluir para perda total da visão, já que o nervo óptico é comprometido. “É importante reforçar que não se trata apenas de uma intoxicação ocular. Estamos diante de uma condição potencialmente letal, que pode levar ao óbito”, alertou Olyvia.

Risco de cegueira e falência múltipla

Quando o metanol é ingerido, o corpo o transforma em ácido fórmico, uma substância extremamente tóxica. Esse ácido pode atacar diretamente os olhos, causando a morte das células da retina (parte do olho responsável por captar as imagens) e do nervo óptico (que leva essas imagens até o cérebro). O resultado pode ser uma cegueira irreversível.

O ácido fórmico também provoca um desequilíbrio chamado acidose sistêmica – quando o sangue fica mais “ácido” do que deveria. Esse quadro, somado aos danos no sistema nervoso central, pode afetar o funcionamento de órgãos vitais, como os rins, os pulmões e o coração.

Se o paciente não recebe tratamento rápido, o organismo pode entrar em falência múltipla de órgãos, uma condição gravíssima que reduz muito as chances de sobrevivência.

Diagnóstico rápido e tratamento

Para minimizar danos, o diagnóstico precisa ser precoce, com suspeita baseada no histórico de consumo de bebida alcoólica e na associação de sintomas gástricos e visuais persistentes. Exames toxicológicos confirmam a presença de metanol e seus metabólitos quando disponíveis.

Pelo menos três pessoas morreram por terem consumido bebidas contaminadas com metanol. – Foto: Freepik/imagem ilustrativa

O tratamento exige administração de antídotos que inibem a transformação de metanol, entre eles estão o etanol (administração oral ou intravenosa, conforme protocolo) ou o fomepizol (antídoto ideal). Quando o paciente apresenta acidose grave, comprometimento visual ou altos níveis de metanol, recorre-se à hemodiálise para remover o tóxico e corrigir o desequilíbrio metabólico.

Segundo nota do Ministério da Saúde,o governo já estoca 4.300 ampolas de etanol farmacêutico em hospitais universitários, enquanto busca fornecedores internacionais para adquirir fomepizol.

Embora não haja confirmação pública de todas as identidades fictícias, relatos divulgados pela imprensa mencionam pacientes com perfis distintos que ilustram o risco.

  • Rafael chegou em coma ao hospital após ingerir bebida em uma festa. Sua família relata que não teve tempo de reconhecer sintomas.
  • Radharani perdeu visão parcialmente após beber em bar de bairro nobre. Ela acordou sem enxergar e permanece em acompanhamento oftalmológico.
  • Bruna encontra-se em estado grave, internada em UTI, com necessidade de suporte ventilatório e monitorização constante.
  • Wesley sofreu um AVC posterior ao coma, apresentando sequelas neurológicas além dos sintomas tóxicos clássicos.
  • Marcelo faleceu pouco tempo após o início dos sintomas, e investigações apontam intoxicação por metanol como causa provável de óbito.

Esses casos demonstram que o risco não atinge apenas consumidores de bares informais: ocorrências ocorreram em locais sofisticados, festas regadas a destilados importados e confraternizações particulares.

Como saber se uma bebida foi adulterada?

O professor de toxicologia, Marcelo Nery explica que a intoxicação por metanol costuma ser diagnosticada com base nos sintomas apresentados pelo paciente. “O exame laboratorial é muito lento e, na maioria das vezes, não chega a tempo de salvar o paciente. Quando os resultados ficam prontos, os danos já são irreversíveis, como a cegueira, ou o paciente já evoluiu para óbito”, afirmou.

Identificar uma bebida adulterada apenas pelo cheiro, cor ou gosto é praticamente impossível, já que o metanol é incolor e sem odor característico. Por isso, especialistas recomendam evitar bebidas de origem duvidosa, destilados muito baratos vendidos sem rótulo, ofertas suspeitas ou bebidas “batizadas” em festas.

“É impossível perceber a diferença. O metanol é adicionado de forma equivocada durante a produção, em processos sem controle de qualidade. Uma vez envasado, só pode ser detectado por testes específicos em laboratório, como a cromatografia”, explicou Nery.

Em bares, o ideal é exigir nota fiscal ou certificado de compra e observar se a embalagem está lacrada corretamente. Caso haja suspeita, recomenda-se guardar uma amostra da bebida e informar o hospital sobre a possibilidade de ingestão de álcool adulterado, o que pode acelerar o diagnóstico.

Avanços na detecção

Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, desenvolveram um método inovador para identificar rapidamente a presença de metanol em bebidas alcoólicas. O sistema utiliza um equipamento que emite luz infravermelha diretamente na garrafa, sem precisar abri-la. A luz interage com as moléculas do líquido, e um software analisa os dados para identificar adulterações.

A equipe também estuda a criação de um canudo que muda de cor quando há contaminação por metanol, oferecendo ao consumidor uma ferramenta prática de proteção. – Foto: Yasin AKGUL/AFP

Segundo o professor David Fernandes, líder do projeto, a técnica já alcançou 97% de precisão na detecção de cachaças adulteradas. “É um resultado rápido, confiável e de baixo custo, que pode ser aplicado em fiscalizações de rotina”, explicou.

Antídotos e resposta do governo

O tratamento contra intoxicação por metanol depende da administração imediata de antídotos que bloqueiam sua metabolização no organismo. Entre eles estão o etanol farmacêutico (usado por via oral ou intravenosa, conforme protocolo) e o fomepizol, considerado o antídoto ideal. Nos casos mais graves, é necessária hemodiálise, que remove a substância tóxica do sangue.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a ampliação do estoque nacional desses medicamentos. Atualmente, o Brasil já dispõe de 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico em hospitais universitários e comprou mais 12 mil unidades de um laboratório nacional. Além disso, o governo fechou a aquisição de 2,5 mil ampolas de fomepizol do Japão, em parceria com a Organização Panamericana de Saúde (Opas).

Casos de intoxicação por metanol

De acordo com o Ministério da Saúde, já são mais de 190 notificações de intoxicação por metanol em 12 estados do país, com casos confirmados e mortes registradas.

Os especialistas alertam que esse é um risco invisível, já que o consumidor não tem meios simples de identificar a contaminação. Por isso, a recomendação é procurar atendimento médico imediato diante de sintomas persistentes ou alterações visuais após ingerir bebida alcoólica. A prevenção, destacam, depende tanto da fiscalização rigorosa quanto da conscientização da população.

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