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O curso de medicina começa na rua e se completa no hospital

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A formação em medicina não depende apenas da faculdade ou do hospital-escola, mas sim de vários processos que se iniciam na rua.

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Um bom curso de Medicina começa na rua! Essa afirmação sempre causa estranheza pois se acredita, normalmente, que um bom curso e a formação em medicina começam nos laboratórios e terminam no hospital.

A formação de um médico envolve dois grandes espaços de aprendizagem: o território em que as pessoas vivem e o hospital, local em que muitas pessoas acorrem quando adoecem. Claro que entre esses dois pontos ainda temos as salas de aulas, os laboratórios de ensino, as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e ambulatórios de especialidades.

É ultrapassada a ideia de que a formação do médico se dá, quase que exclusivamente, no hospital. E, que para existir um bom curso de Medicina a escola deve ter um hospital próprio, da mesma forma que está ultrapassado o aforisma que a função do médico é exclusivamente diagnosticar e tratar doenças. O que é moderno é entender que a formação do médico envolve, tal qual o próprio sistema de saúde, ações de promoção da saúde, prevenção das doenças, diagnóstico e o tratamento; e ainda a reabilitação.

Essa abordagem está em sintonia com a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), que atua por meio das Redes de Atenção à Saúde (RAS). Dentro dessa lógica, o hospital é sim um ponto estratégico, mas atende a uma parcela pequena da população. A maior parte do cuidado em saúde acontece em unidades de atenção primária e serviços de urgência.

Se a formação em Medicina fosse centrada no hospital estaríamos renunciando à formação dos médicos para a promoção da saúde e prevenção das doenças e, mesmo em relação ao adoecer, estaríamos restringindo a abordagem a aquelas situações que necessitam de internação, o que acontece na minoria das vezes em que as pessoas necessitam de cuidado.

Por que um bom curso de Medicina começa na rua? 

Porque precisamos entender quais os determinantes que existem nos territórios em que as pessoas vivem e que possam ser fatores de promoção da saúde ou fatores que colocam a saúde em risco. Esses fatores estão geograficamente localizados e muitos deles estão além da biologia humana, mas nos aspectos sociais e demográficos das comunidades.

Quando ensinamos o médico a fortalecer os fatores que contribuem para a saúde estamos aprendendo a desenvolver ações de promoção da saúde. Quando buscamos afastar os fatores destruidores da vida estamos fazendo prevenção.

Uma vez entendidas as dinâmicas da vida no território (na comunidade) o estudante necessita fazer visitas domiciliares para conhecer onde e como moram as pessoas, suas famílias e as relações com os mais íntimos. Ali, na casa das pessoas é que se engendram hábitos e estilos de vida, relações afetivas que contextualizam o processo de saúde e do adoecer, seja no caso das doenças agudas, sejam crônicas. Não esqueçamos dos ambulatórios especializados, que estariam a meio caminho entre as Unidades Básicas e os hospitais e os serviços de urgência e emergência.

Não é uma disputa: é uma integração

A questão não é escolher entre o hospital e a comunidade como melhor espaço para a formação médica. Trata-se de entender que o curso se dá nas Redes de Atenção à Saúde, de forma articulada, em linhas de cuidado que começam antes mesmo do adoecer a partir daí cumprem um itinerário terapêutico que se inicia em casa com o autocuidado e segue pelo setor profissional de saúde.

Concluindo: o curso de Medicina se dá desde o local onde as pessoas vivem até os locais onde elas buscam cuidados profissionais de saúde. A formação dos novos médicos deve contemplar a compreensão e capacidade de atuação em toda a linha de cuidados.

Conheça o colunista Ipojucan Calixto:

O colunista Ipojucan Calixto Fraiz é médico com residência em pediatria a mais de 40 anos. Com mestrado e doutorado em Sociologia, dedicou ao estudo do adoecimento da população, analisando as influências dos fatores sociais sobre a saúde.

Ipojucan possui uma carreira acadêmica sólida como professor de Medicina com ênfase em Saúde Coletiva há mais de 30 anos. Além disso, acumula 15 anos de experiência como coordenador de cursos de Medicina, tanto no setor público quanto privado.

Atualmente, é integrante dos grupos de pesquisa em Sociologia e Políticas Públicas de Saúde na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde continua contribuindo para o avanço do conhecimento na área.

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