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O que é o Internato Médico e porque os estudantes atendem em unidades públicas do SUS

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Saiba como funciona o internato médico, por que ocorre no SUS e qual seu papel na formação prática dos futuros médicos no Brasil.

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O Internato Médico representa a etapa final da graduação em Medicina no Brasil. Trata-se de um período de formação prática obrigatória, com duração de dois anos, que integra o quinto e o sexto anos do curso. Durante esse ciclo, os estudantes deixam as salas de aula e passam a atuar diretamente nos serviços de saúde, sob supervisão, geralmente no SUS.

Eles acompanham o dia a dia de hospitais, unidades básicas de saúde (UBS), prontos-socorros e ambulatórios. Mais do que uma exigência acadêmica, o internato funciona como um verdadeiro campo de imersão na rotina médica, com papel central na formação clínica, ética e humanística dos futuros profissionais.

A exigência do internato consta nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do curso de Medicina, definidas pelo Ministério da Educação (MEC). Desde a Resolução CNE/CES nº 3, de 20 de junho de 2014, todas as escolas médicas do país devem garantir que pelo menos 35% da carga horária total do curso seja realizada no internato. 

Além disso, as diretrizes determinam que o internato deve contemplar, obrigatoriamente, três grandes áreas: clínica médica, cirurgia e saúde coletiva — esta última abrange a atenção básica, à saúde da família e as atividades em comunidades.

Nesse cenário, a pergunta central persiste: por que os estudantes realizam essa fase de formação em unidades públicas? A resposta passa pela estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), que, além de ser a maior rede pública de saúde da América Latina, é também o principal campo de prática para a formação médica no Brasil.

Internato Médico no SUS: o maior campo-escola do país

Desde a criação da Lei Orgânica da Saúde (Leis nº 8.080 e 8.142, de 1990), o SUS se consolidou não apenas como um sistema de acesso universal à saúde, mas também como um espaço estratégico para o ensino e a pesquisa em saúde. 

Essa característica foi reforçada pela Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), instituída em 2004, e pela Portaria Interministerial nº 1.802/2008, que reconheceu formalmente o SUS como campo de prática para os cursos da área da saúde.

De acordo com dados do próprio Ministério da Saúde, cerca de 75% dos estudantes de Medicina realizam estágios obrigatórios em unidades públicas de saúde, tanto na atenção primária quanto em hospitais vinculados a redes de ensino. 

Essa realidade se acentua porque a maioria das faculdades de Medicina — inclusive as privadas — mantém convênios com secretarias municipais e estaduais de saúde para garantir que os estudantes tenham acesso a cenários reais e diversificados de prática clínica.

Além disso, a maioria dos hospitais universitários do país está integrada à rede pública. Segundo o Ministério da Educação, o Brasil possui 51 hospitais universitários vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Todos são públicos e integram o SUS, atendendo majoritariamente pacientes do sistema e oferecendo campos de estágio para cursos da saúde, com destaque para a Medicina.

A formação em saúde como função social

Outro fator que explica essa vinculação com unidades públicas é o próprio compromisso social da formação médica. As DCNs de Medicina apontam que o curso deve formar profissionais capazes de atuar com competência técnica, ética e humanística, com atenção prioritária às necessidades de saúde da população brasileira. 

Portanto, o internato não se restringe à aquisição de habilidades clínicas, mas envolve também o desenvolvimento de uma visão crítica sobre o funcionamento dos sistemas de saúde, as desigualdades no acesso e a importância do trabalho interdisciplinar.

Nesse contexto, o SUS aparece como um campo privilegiado de aprendizado. As UBS, por exemplo, permitem o contato direto com a realidade das comunidades, promovem o acompanhamento longitudinal de pacientes e favorecem a construção de vínculos — aspectos considerados essenciais para o exercício da medicina geral, conforme estabelecido pelas diretrizes curriculares.

Internato e residência médica: uma ponte estratégica

Outro aspecto que aproxima o internato das unidades públicas é a relação com os programas de residência médica. Muitos hospitais e unidades que recebem internos também são cenários de formação de residentes. 

Isso cria uma dinâmica de aprendizado vertical, em que internos aprendem com residentes e preceptores, numa lógica de ensino em serviço. Essa convivência é estratégica não só para o aprendizado técnico, mas também para a futura inserção profissional.

Além disso, diversos programas de residência exigem, nos processos seletivos, que o candidato tenha vivência em serviços públicos e conhecimento das políticas do SUS. O Enare (Exame Nacional de Residência), por exemplo, valoriza nas entrevistas e nas provas o domínio sobre a estrutura da atenção básica e as diretrizes da atenção primária.

Realidade prática e desafios

Embora o internato seja uma etapa essencial na formação médica, ele também enfrenta obstáculos relacionados à estrutura e à supervisão nas unidades de ensino e saúde. Em regiões metropolitanas, por exemplo, a alta demanda por campos de estágio públicos pode gerar sobrecarga nos serviços, dificultando o acompanhamento mais individualizado dos estudantes.

Para enfrentar essas questões, o Ministério da Educação (MEC) tem intensificado as ações de monitoramento e fiscalização dos cursos de Medicina. Em 2023, o Conselho Nacional de Saúde recomendou maior atenção à estrutura prática das graduações.

Em resposta, o MEC, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), atualizou a matriz de referência do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) da Medicina, incluindo critérios mais claros e objetivos voltados à formação prática e à supervisão dos internos. A medida visa melhorar a avaliação dos cursos e garantir maior alinhamento com as exigências da realidade profissional.

Outro ponto de atenção envolve o acompanhamento direto dos estudantes durante o internato. A legislação brasileira determina que os internos devem atuar sempre sob orientação de profissionais habilitados. O MEC, atento a essa diretriz, reforça a importância de que as instituições de ensino mantenham supervisão adequada e ambientes de estágio compatíveis com os objetivos de aprendizado.

O internato médico constitui uma fase decisiva na formação dos futuros profissionais de saúde no Brasil. Ao promover o contato direto com a prática clínica, ele contribui para consolidar habilidades técnicas, éticas e humanas.

A atuação em unidades públicas, longe de ser uma escolha isolada das instituições de ensino, reflete um modelo de formação ancorado no Sistema Único de Saúde (SUS), que é, ao mesmo tempo, campo de cuidado e de aprendizado. Apesar dos desafios estruturais, essa integração se mostra essencial para formar médicos preparados para as complexidades da saúde brasileira.

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