O Brasil enfrenta um quadro preocupante na formação de especialistas. Segundo dados da Comissão Nacional de Residências Médicas (CNRM), em junho de 2025 o Brasil contava com 67.717 vagas em programas cuja situação do programa era ‘Autorizado’, das quais 48.702 estavam ocupadas. Esse cenário corresponde a uma taxa de ociosidade de 28,08%, equivalente a 19.015 vagas não preenchidas, de acordo com o Painel da Educação Médica.
A situação acende um alerta para a saúde pública, já que muitas dessas vagas estão concentradas em áreas estratégicas para o Sistema Único de Saúde (SUS), como a atenção primária, a pediatria e a clínica médica.

Além disso, algumas especialidades de alta complexidade permanecem com baixa adesão ou até mesmo sem nenhum médico inscrito, o que pode comprometer a distribuição e a disponibilidade de profissionais em regiões e áreas sensíveis do país.
Sul e Centro-Oeste lideram índices de ociosidade
Entre as regiões brasileiras, o Sul apresentou o maior percentual de ociosidade: 32,18%, equivalente a 3.545 vagas não preenchidas. Na região, o destaque é o Paraná, onde, das 4.419 vagas autorizadas, 1.647 estavam ociosas, o equivalente a 37,27%.

No panorama estadual de todo o país, o Mato Grosso lidera com o índice mais elevado: 40,34% de vagas desocupadas. Entre as áreas mais afetadas no estado estão Neonatologia, Endoscopia, Radioterapia, Cirurgia Cardiovascular e Radiologia/Diagnóstico por Imagem.
Especialidades com 100% de ociosidade
Algumas áreas, apesar de terem vagas autorizadas, não registraram nenhuma ocupação, apresentando 100% de ociosidade. São elas:
- Medicina de Família e Comunidade – Atenção Domiciliar
- Transplantes em crianças e adolescentes – Pediatria
- Medicina Tropical
- Transplante de Coração – Cirurgia Cardiovascular
- Medicina de Família e Comunidade – Saúde Indígena
Vale destacar que, no conjunto, essas cinco especialidades somam apenas 30 vagas autorizadas.
Principais áreas e taxa de ocupação
Mesmo entre as especialidades com maior número de vagas, o índice de ociosidade permanece significativo. Os dados de 2025 apontam que:
- Clínica Médica: 16,02%
- Pediatria: 22,67%
- Medicina de Família e Comunidade: 43,71%
- Cirurgia Geral: 16,84%
- Ginecologia e Obstetrícia: 22,01%
Desafios para a formação médica
O cenário de ociosidade nas residências médicas revela um desafio estrutural para a formação de especialistas no Brasil. Especialidades fundamentais para a atenção básica, como a Medicina de Família e Comunidade, seguem com baixa atratividade, enquanto áreas complexas da saúde ainda enfrentam falta de profissionais interessados.
A desocupação dessas vagas compromete o aproveitamento da estrutura de formação já disponível, além de impactar a oferta de serviços à população.
Junior Lemos

O colunista Júnior Lemos é Economista, Mestre pela Universidade Federal de Sergipe, Cientista de Dados, com atuação em temas ligados a Políticas Públicas.
Possui experiência em análise de dados, inteligência de mercado e elaboração de relatórios gerenciais, com domínio de ferramentas como Power BI e STATA.
Além disso, também atua em projetos relacionados a finanças públicas e educação e, atualmente, sou Coordenador do Observatório de Política Econômico-Fiscal na Secretaria de Estado da Fazenda de Sergipe.