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UFPE abre vagas de Medicina para sem-terra e quilombolas; medida inédita gera críticas

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Medida inédita da UFPE reserva 80 vagas em Medicina para beneficiários do Pronera, mas críticas de entidades médicas levantam debate sobre isonomia no acesso.

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A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) abriu 80 vagas no curso de Medicina destinadas exclusivamente para pessoas sem-terra e quilombolas, beneficiários do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), programa federal que oferece educação para essas comunidades.

Essa iniciativa, inédita no Brasil, marca a primeira vez que o Pronera inclui a formação médica entre suas ofertas. Até agora, o programa contemplava áreas como pedagogia, direito, agronomia, engenharia agrícola, medicina veterinária e zootecnia.

De acordo com Clarice dos Santos, coordenadora-geral de Educação, Arte e Cultura do Campo do Incra, o novo curso é fruto de uma articulação do Pronera que reúne o Incra, a UFPE, movimentos sociais e organizações do campo, além de diferentes ministérios, com destaque para o da Saúde.

Celebramos a abertura desta turma pelo compromisso revelado por todas essas instituições na formação de médicos e médicas camponeses, em uma iniciativa que ajuda a fortalecer o SUS no atendimento à saúde nas áreas rurais, ainda um grande desafio no nosso país”, considera a gestora.

A medida gerou repercussão nacional porque, ao mesmo tempo em que amplia o acesso de comunidades historicamente excluídas do ensino superior, provocou reações contrárias de entidades médicas, que questionam a forma de ingresso e os possíveis impactos sobre a educação médica.

O que é o Pronera?

O Pronera foi criado em 1998 e, desde então, tem como objetivo garantir o direito à educação para assentados da reforma agrária, acampados e quilombolas.

Em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Ministério da Educação (MEC), o Pronera busca promover a permanência das famílias em áreas rurais, qualificando a mão de obra local e fortalecendo as comunidades.

Até agora, cursos como pedagogia, agronomia, engenharia agrícola e veterinária foram os mais comuns.

Por isso, a criação de uma turma de Medicina na UFPE voltada a pessoas sem-terra e quilombolas é considerada inovadora

O que dizem as entidades médicas?

Apesar da novidade, a decisão da UFPE encontrou forte resistência. O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), a Associação Médica de Pernambuco (AMPE) e a Academia Pernambucana de Medicina (APM) divulgaram uma nota conjunta contra a medida.

Segundo as entidades, a criação de um processo seletivo exclusivo UFPE, sem o uso do Enem ou do Sisu, “afronta os princípios da isonomia e do acesso universal” e pode “representar um precedente grave e perigoso para a educação médica no Brasil”.

As instituições reconhecem a legitimidade de políticas afirmativas, mas argumentam que tais ações precisam ser proporcionais, equilibradas e transparentes.

Confira a nota em conjunto das entidades:

Nota oficial das entidades sobre o processo seletivo criado pelo Pronera/UEPE.

Resposta da UFPE

Em nota disponibilizada para o Portal Melhores Escolas Médicas, a UFPE afirmou que as vagas criadas são supranumerárias, ou seja, não reduzem a quantidade de lugares já ofertados pelo Sisu. Portanto, segundo a instituição, não há prejuízo para os demais candidatos.

A criação desta turma especial não interfere na distribuição regular de vagas da universidade que já existe fluxo de funcionamento definido na instituição via Sisu“, ressaltou em nota.

Além disso, a universidade fundamenta sua decisão na autonomia universitária prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e no respaldo do Ministério da Educação.

A LDB reforça a autonomia universitária para definir o número de vagas, incluindo a abertura de vagas supranumerárias, especialmente quando destinadas a políticas públicas específicas. Ainda, o MEC, por meio de notas técnicas e pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE), também reconhece a legitimidade da criação de vagas supranumerárias, especialmente quando associadas a políticas afirmativas e inclusão social“.

As aulas estão marcadas para começar no dia 20 de outubro de 2025, no Centro Acadêmico do Agreste (Campus Caruaru), e prometem inaugurar um novo capítulo na formação de profissionais de saúde no Brasil.

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Como será a seleção para as 80 vagas

O ingresso será feito por meio de um processo seletivo exclusivo UFPE, destinado apenas a beneficiários do Pronera. A primeira etapa consiste em uma prova presencial de redação dissertativo-argumentativa, com tema relacionado ao contexto do Pronera.

Já a segunda etapa será a análise do histórico escolar do ensino médio, a partir da média das notas de Língua Portuguesa, Biologia e Química nos três anos do curso.

Poderão concorrer as vagas: assentados da reforma agrária; integrantes de famílias beneficiárias do Crédito Fundiário; educandos egressos de cursos de especialização promovidos pelo Incra; educadores ligados a famílias beneficiárias; acampados cadastrados pelo Incra e quilombolas.

O resultado preliminar está previsto para o dia 14 de outubro de 2025, e o resultado final deve ser divulgado até 16 de outubro de 2025, no site da UFPE.

Confira o Cronograma do processo seletivo

  • Para mais informações sobre o processo seletivo acesse o Edital.

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