Vai longe o tempo em que aprendíamos Medicina em salas de aula tipo anfiteatro com suas cadeiras fixas, laboratórios de bancada e hospitais. Toda essa estrutura ainda é útil e essencial para a boa formação médica; mas, é seguramente insuficiente.
Espaços diversificados, mais agradáveis e estimulantes buscando o conhecimento, mas também a aquisição de habilidades práticas e o desenvolvimento integral do estudante, incluindo os aspectos afetivos e de bem-estar são a tendência arquitetônica para os novos cursos.
Além, é claro, das tecnologias de informação e comunicação incorporadas pelo mundo do trabalho do médico e necessariamente presente na formação profissional. Para além dos hospitais, outros serviços de densidades tecnológicas diferentes são necessários durante os seis anos de trajetória acadêmica.
As salas de aula devem permitir diferentes configurações, como cadeiras e mesas móveis. Devem ser amplas, climatizadas e bem iluminadas, assim como todas as dependências necessárias para a gestão e para o ensino, bem como aquelas para o descanso, socialização e lazer.
Devem incorporar equipamentos para comunicação e acesso à internet de boa qualidade. Computadores, câmeras para gravar em vídeo as aulas, equipamentos para transmissão das aulas para outros ambientes são hoje recursos comuns nas boas escolas médicas.
Os laboratórios de bancada, como aqueles em que as ciências básicas são exercitadas (anatomia, fisiologia, histologia, entre outras), hoje são comumente chamados de Laboratórios Morfofuncionais ou Multidisciplinares, já que a ideia é ensinar as ciências básicas integradas entre si e articuladas com o fazer médico. Se o ensino mudou, a arquitetura escolar também mudou.
Laboratórios de Habilidades e Simulação são praticamente obrigatórios em qualquer curso de Medicina na atualidade. O aluno primeiro adquire habilidades médicas de forma simulada, em ambientes seguros e protegidos e somente depois faz procedimentos diagnósticos e terapêuticos nos pacientes. É seguro e ético também para os pacientes.
Veja mais textos da série ‘Qualidade dos cursos de Medicina no Brasil’ do Dr. Ipojucan:
- Falando da qualidade dos cursos de Medicina: organização didático-pedagógica
- Ainda sobre a qualidade dos cursos de Medicina: corpo docente
A Biblioteca exerce papel central em todos os processos educacionais e não seria diferente na Medicina. Esse espaço, anteriormente um acervo físico de livros, hoje é uma região de encontro entre o tradicional e o moderno. Coexistem os livros físicos com os acervos virtuais sejam de livros texto, sejam de base de dados virtuais para artigos científicos. Esse lugar é ritualístico, lugar de estudo individual ou em grupo, em material físico ou virtual, este acessado por computadores em número abundante para que todo o acervo virtual possa ser consultado, por todos os alunos, no próprio ambiente da Biblioteca.
É fato, também, que todo o acervo virtual pode ser acessado pelo estudante em qualquer hora ou lugar. A presença de um profissional bibliotecário é essencial para apoiar os estudantes na sua busca por respostas aos problemas apresentados em sala de aula. As melhores bibliotecas têm também espaços de descanso como, por exemplo, as ociotecas.
Salas de descompressão, espaços de lazer, alimentação, convivência e para a prática de esportes permitem a formação integral do médico, respeitado como pessoa, para além da dimensão cognitiva.
A prática da Médicina
O exercício de prática em ambientes assistenciais do Sistema Único de Saúde se dá em serviços próprios ou conveniados. São necessários serviços como unidades básicas de saúde, ambulatórios especializados, hospitais, serviços de urgência e emergência e de saúde mental. Em todos esses ambientes reais de prática o estudante deve atuar sob supervisão direta de professores e preceptores.
O acesso às tecnologias de informação e comunicação é parte obrigatória dos bons cursos de Medicina desde a sala de aula até os laboratórios, sendo necessário também nos ambientes simulados e reais de prática. A telemedicina, por exemplo, necessita dessas tecnologias para o seu desenvolvimento. Os laboratórios de informática devem estar presentes na infraestrutura de um curso de Medicina, com computadores e softwares atualizados e com acesso a rede de internet com velocidade adequada.
A acessibilidade arquitetônica deve ser observada com as rampas de acesso, elevadores, piso tátil, banheiro para pessoas com deficiência, banheiro familiar, entre outras medidas que permitam o acesso de todos aos ambientes de ensino-aprendizagem. Além disso, o instrumental deve ser adequado para permitir acesso a todas as pessoas incluídas as pessoas com deficiência.
Entre tantas outras estruturas necessárias para o bom desempenho de um curso de Medicina, listamos essas para reforçar a ideia de que sem uma infraestrutura adequada não é possível oferecer formação médica de qualidade.
Ipojucan Calixto Fraiz
O colunista Ipojucan Calixto Fraiz é médico com residência em pediatria a mais de 40 anos. Com mestrado e doutorado em Sociologia, dedicou ao estudo do adoecimento da população, analisando as influências dos fatores sociais sobre a saúde.
Ipojucan possui uma carreira acadêmica sólida como professor de Medicina com ênfase em Saúde Coletiva há mais de 30 anos. Além disso, acumula 15 anos de experiência como coordenador de cursos de Medicina, tanto no setor público quanto privado.
Atualmente, é integrante dos grupos de pesquisa em Sociologia e Políticas Públicas de Saúde na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde continua contribuindo para o avanço do conhecimento na área.
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