O Governo Federal lançou um censo nacional que pretende mapear, com precisão inédita, a força de trabalho nos serviços de saúde do país. O objetivo principal vai além de contabilizar pessoas: o levantamento busca qualificar o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e fornecer dados operacionais que sustentem políticas de planejamento, formação e dimensionamento do trabalho de profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Por que fazer um censo agora?
O Brasil enfrenta déficits e desigualdades na distribuição de profissionais de saúde que afetam diretamente a capacidade de resposta do SUS. Portanto, autoridades definiram que apenas dados atualizados e detalhados permitem desenhar políticas públicas eficazes.
Em outras palavras, sem saber exatamente quem trabalha onde, com que formação e em qual regime de vínculos, gestores não conseguem alocar recursos, planejar formações nem corrigir distorções territoriais na oferta de serviços. Esse raciocínio motivou a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) a assumir o projeto e a torná-lo prioritário.
Objetivos: o que o censo pretende responder
O censo busca responder perguntas concretas e operacionais: quantos profissionais atuam em cada estabelecimento; qual a formação e a titulação desses trabalhadores; quais funções ocupam; onde prestam serviços (endereço e nível de atenção); e como se organizam os vínculos empregatícios (tempo de serviço, jornada, exercício em mais de um local).
Além disso, o projeto inclui profissionais frequentemente invisibilizados nas estatísticas, como pessoal de limpeza, alimentação, segurança, motoristas do SAMU, maqueiros e administrativos, ca tegorias essenciais para o funcionamento dos serviços. Essas respostas guiam decisões sobre investimentos, cursos de qualificação e políticas salariais que impactam a qualidade do atendimento.
Como o censo será realizado
O Ministério da Saúde adotou uma estratégia mista. Primeiro, realizou formação de recenseadores locais, em sua maioria profissionais do SUS que já atuam com o CNES e com sistemas de informação em saúde.
Em seguida, testou a metodologia em projetos-piloto no Distrito Federal e em Mato Grosso do Sul, escolhidos por suas características contrastantes: alta concentração urbana no DF e grande extensão territorial com baixa densidade populacional no MS.
A coleta ocorrerá de forma presencial em unidades que exigem visita, e também por meios remotos, como entrevistas por telefone, videoconferência e preenchimento de planilhas eletrônicas, conforme as necessidades locais. Esse desenho operacional busca garantir cobertura em áreas de difícil acesso, incluindo Distritos Sanitários Especiais Indígenas, territórios quilombolas e unidades flutuantes.
Dados a serem coletados
O formulário do censo reúne variáveis demográficas e laborais: nome profissional ou identificação, formação acadêmica e cursos de especialização, função exercida, vínculo empregatício (celetista, estatutário, autônomo), jornada semanal, local de atuação principal e secundário, tempo de serviço e participação em programas de formação continuada.
Ao agrupar essas informações, gestores poderão, por exemplo, identificar regiões com excesso de técnicos mas escassez de profissionais de nível superior; detectar sobrecarga por dupla jornada; e planejar vagas de residência, cursos de atualização e incentivos regionais de acordo com necessidades reais. Em suma, os dados permitem transformar suposições em planos operacionais.
Impactos esperados no atendimento à população
Quando gestores conhecem o perfil da força de trabalho, eles podem priorizar ações que aumentem a resolutividade dos serviços. Por exemplo, em áreas onde há alta rotatividade ou múltiplos vínculos precários, o poder público pode desenhar programas de valorização e qualificação que reduzam faltas e rupturas no atendimento.

Em locais com déficit de médicos ou enfermeiros, o censo vai subsidiar políticas de provimento e incentivos para fixação. Ademais, a inclusão de categorias não-clínicas no levantamento permite melhorar logística e assistência (higiene, alimentação, transporte de pacientes), o que repercute na segurança e na experiência do usuário.
Em conjunto, essas medidas tendem a elevar indicadores de qualidade, como tempo de espera, taxa de resolutividade e continuidade do cuidado.
Transparência, formação e legado
O censo não se limita à coleta. O Ministério articulou formação para recenseadores e criou governança territorial com secretarias estaduais e conselhos municipais de saúde, o que fortalece a capacidade local de gestão da informação sobre os profissionais do SUS. Além disso, o Ministério projeta divulgar os resultados oficialmente e alimentar bases como o CNES, tornando os dados acessíveis para pesquisadores, gestores e sociedade civil.
Esse legado pode mudar a forma como o país instrumenta políticas de trabalho em saúde, alinhando-as a evidências reais e não a estimativas defasadas.
Conhecer a força de trabalho do SUS significa conhecer a espinha dorsal do sistema de saúde. Por isso, o censo representa um passo estratégico: ele fornece a matéria-prima necessária para planejar, formar e valorizar profissionais e, por consequência, melhorar o atendimento ao usuário.
Se gestores e gestores locais usarem esses dados com responsabilidade, o resultado pode ser concreto: serviços mais bem dimensionados, equipes mais estáveis e, em última instância, atendimento mais efetivo à população.
Veja também:
SUS como campo de ensino: entenda como o sistema de saúde forma médicos no Brasil
Aberto o prazo para pedir isenção da taxa do vestibular de Medicina da Unifesp