Uma cirurgia do SUS corrige coluna de bebê ainda dentro do útero da mãe no Rio de Janeiro. O procedimento aconteceu no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e chamou atenção pela sofisticação tecnológica e pelo potencial de transformar a vida de famílias que enfrentam diagnósticos semelhantes.
A paciente Danielle Ramos, de 25 anos, foi atendida inteiramente pelo SUS. A equipe médica retirou temporariamente o útero da mãe, corrigiu a lesão com microcirurgia e recolocou o órgão para dar continuidade à gestação.
Durante a operação, tanto mãe quanto bebê foram sedados, e a equipe utilizou microscópio cirúrgico para garantir a precisão. O feto foi monitorado por ultrassom em tempo real. Após a intervenção, a gravidez seguiu normalmente e o bebê deverá nascer com apenas uma pequena cicatriz nas costas.
O que é mielomeningocele?
A cirurgia tratou a mielomeningocele, forma grave de espinha bífida em que a coluna vertebral não se fecha corretamente durante a formação do feto. A condição expõe a medula ao líquido amniótico e pode causar lesões neurológicas, hidrocefalia e até paralisia.
Pesquisas internacionais, como o estudo MOMS (Management of Myelomeningocele Study), comprovam os benefícios da correção intrauterina: a cirurgia reduz pela metade a necessidade de válvulas para drenar líquido encefálico e dobra as chances da criança andar sem auxílio.
No país, esse tipo de cirurgia é realizado desde 2017, em parceria entre a Maternidade Escola da UFRJ e o Instituto Estadual do Cérebro. Até setembro de 2024, foram feitas cerca de 65 correções fetais. A cada ano, aproximadamente 3 mil bebês nascem com essa malformação no Brasil, o que equivale a um em cada mil nascimentos.
Repercussão social e política
Apesar de rara, a cirurgia se tornou símbolo da capacidade do SUS de oferecer procedimentos de alta complexidade de forma gratuita. O caso ganhou repercussão nacional após ser acompanhado pelo programa Profissão Repórter, da TV Globo.
O tema também chegou ao Congresso Nacional. Em julho de 2025, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que obriga o SUS a oferecer a cirurgia fetal em todos os casos confirmados de mielomeningocele. A proposta ainda será analisada pelas comissões de Finanças e de Constituição e Justiça antes de seguir para o Senado.
Além de reduzir danos à medula, a cirurgia intrauterina melhora a posição do cerebelo e diminui a chance de complicações neurológicas. Para as famílias, significa mais autonomia motora, menos internações e melhor qualidade de vida para a criança.
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