Medicina e arte são duplas improváveis? Pelo contrário, a multidisciplinaridade é uma característica do mundo moderno aplicada em várias situações, assuntos e contextos. A complexidade humana repousa, justamente, na união de pensamentos, conceitos, teorias e sentimentos diferentes, e, muitas vezes, aparentemente, opostos. Esse é o tema do artigo publicado na Revista de Medicina, cujos autores propõem um olhar inovador para a questão. Para eles, “debater artes durante a graduação pode ser uma forma criativa de desenvolver novas percepções e perspectivas para estudantes de medicina“, mas aliar o conhecimento técnico médico às artes e estimular “atividades físicas em um ambiente lúdico continua sendo um desafio“.
Os autores analisaram os benefícios e o enriquecimento que a arte proporciona aos estudantes de graduação da área, tendo como ponto de partida a criação do Programa Extracurricular de Aperfeiçoamento Global de Estudantes de Medicina (GIPMS) da Universidade de Fortaleza, que incluiu encontros abrangendo diversas inspirações artísticas. Participaram do programa 15 homens e 25 mulheres, durante um ano, resultando em ação inovadora na qual se trabalharam sentimentos, reflexões, conquistas, medos e superação que estimularam mudanças importantes no comportamento do futuro médico, na medida em que se humanizou a relação médico-paciente.
Foram realizados 61 encontros, com duração de duas horas cada, entre 2015 e 2016. As artes escolhidas como estímulos para os alunos foram: cinema, teatro/encenação, pintura, música, fotografia e artes plásticas, sendo apresentadas a cada 45 dias.
O projeto proporcionou aos participantes o desenvolvimento de ideias, sentimentos e lembranças, além da constatação da relevância da “ligação entre as artes e a vida e a produtividade acadêmica”, resultando em ações transformadoras, “proporcionadas pelos estímulos artísticos” aplicados. Artes como o teatro e a fotografia, por exemplo, são instrumentos de reflexão sobre a realidade e as questões humanas, auxiliando no nascimento de uma visão de mundo mais ampla, mais interessante, com mais lazer e menos estresse.
Segundo o artigo Belas artes para estudantes de medicina: motivando debates transformadores, a educação médica não prescinde da capacitação do profissional em escutar, em desenvolver a sensibilidade para discernir o melhor tratamento para a doença, atentando para sua fala, suas expressões, levando em conta suas realidades sociais e econômicas, enfim, enxergando o paciente a partir de seu contexto, “para além de suas condições clínicas, em um modelo de atenção integral centrado na pessoa que adoece“. Para haver uma atenção plena é urgente que a formação dos estudantes de Medicina inclua desafios como introduzir, por exemplo, a arte no cotidiano das salas de aula, já que novas necessidades se apresentam indispensáveis para a formação integral do médico como indivíduo e como agente mantenedor da saúde integral do doente.
A convivência da arte com a ciência, no caso, das artes com a Medicina, concede “qualidades humanísticas em consultas rápidas, superficiais e operacionais“, quando há a empatia entre médico e paciente, situações que se concretizam pela convivência com as “artes, a literatura, a bioética e a espiritualidade“. Finalizando, os autores confirmam a importância do programa em estimular debates sobre temas como saúde mental, emocional e física, que auxiliam, nas palavras dos próprios alunos, na “inspiração para mudanças de perspectivas e atitudes, além de proporcionarem ganhos na vida acadêmica“.
Fonte: Jornal da USP
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