A demografia médica de 2025 mostra que o Brasil atingiu um crescimento histórico no número de médicos, mas ainda enfrenta desafios estruturais significativos. Realizada pela USP, em parceria com o Ministério da Saúde e a Associação Médica Brasileira (AMB), a pesquisa aponta que a expansão da formação médica e da força de trabalho não resolveu desigualdades regionais, problemas na residência e desalinhamento com o SUS.
Entre 2004 e 2024, o número de cursos de medicina saltou de 143 para 448, enquanto as vagas anuais passaram de 13.820 para 48.491. A maior parte da expansão ocorreu em instituições privadas, que concentravam quase 80% das vagas em 2024.
Apesar da descentralização geográfica, a qualidade da formação preocupa especialistas. De acordo com a demografia, escolas privadas apresentam notas inferiores e menos docentes por aluno, o que pode impactar a preparação de novos médicos para atuar com segurança e competência.
A distribuição de médicos continua desigual. Em 2024, o Distrito Federal registrava a maior razão de médicos por 1.000 habitantes (6,28), enquanto o Maranhão apresentava apenas 1,27. Municípios menores, com menos de 5 mil habitantes, têm 0,51 médicos por 1.000 habitantes, enquanto cidades grandes mantêm uma média de 5,75.
Essa concentração nas capitais gera “vazios assistenciais”, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde o acesso a serviços de saúde especializados permanece limitado.
Desafios da Residência Médica
A Residência Médica (RM) enfrenta desequilíbrios que dificultam a formação de especialistas. Em 2024, apenas 47.718 médicos cursavam RM, cerca de 8% do total nacional. A diferença entre graduados e vagas de primeiro ano aumentou de 3.886 em 2018 para 16.422 em 2024, e quase 20% das vagas permaneceram sem ocupação.
O baixo valor da bolsa, R$ 4.106,09 (desde janeiro de 2022), e a carga horária intensa tornam a residência menos atraente. Além disso, cursos de pós-graduação surgem como alternativa, mas carecem de regulamentação prática, podendo afetar a qualidade da formação médica.
Na cidade de Marajó, no estado do Pará, por exemplo, a média é de 0,33% de médicos por 1000 habitantes, muito abaixo da média recomendada, segundo dados do Painel da Educação Médica.

A formalização do trabalho médico diminuiu significativamente. Em 2023, apenas 33,3% dos profissionais tinham vínculos formais, uma queda de 54% em relação a 2012. Cresce a prática da “pejotização”, cooperativas e terceirização, enquanto o setor público adota contratos alternativos.
A média de vínculos por médico caiu de 1,53 em 2012 para 1,34 em 2023. O rendimento médio mensal, de R$ 36.818 em 2022, ainda supera a média nacional, mas apresenta queda em comparação a 2012 e diferenças significativas por gênero e idade.
Desalinhamento com o SUS
Dados da Demografia Médica no Brasil 2024 (CFM/USP) mostram que muitos médicos especialistas atuam majoritariamente no setor privado, mesmo quando mantêm algum vínculo com o SUS. Isso contribui para desigualdades na oferta de procedimentos e tempo de espera.
A demografia médica 2025 evidencia que o crescimento do número de médicos no Brasil não elimina os desafios estruturais. A expansão da graduação, a desigualdade regional, o desequilíbrio na residência, a precarização do trabalho e o desalinhamento com o SUS exigem políticas públicas estratégicas.
Investir em infraestrutura, oferecer incentivos para fixação de especialistas em regiões carentes e alinhar a formação médica às demandas do SUS são passos essenciais para garantir uma medicina de qualidade e acessível a toda a população, como mostra a demografia médica 2025.