Na última terça-feira (19), estudantes da Fundación Barceló, em Buenos Aires, realizaram uma manifestação para protestar contra os sucessivos aumentos nas mensalidades do curso de Medicina na Argentina. A mobilização reflete a insatisfação dos discentes com a falta de transparência nos reajustes e os impactos financeiros enfrentados, especialmente por estudantes estrangeiros.
Os estudantes exigem maior clareza sobre os critérios adotados para os reajustes, revisão dos valores projetados para 2025 e a criação de um canal de diálogo direto entre a administração da instituição e os estudantes. Segundo relatos, os aumentos estão ocorrendo mensalmente, um ritmo considerado atípico em comparação com outras universidades privadas, que reajustam seus preços trimestralmente.
A brasileira Ana Júlia*, uma das alunas da instituição, revelou que os gastos com mensalidades e despesas gerais têm ultrapassado 6 mil reais por mês, preço da universidade mais barata do Brasil. “A maioria das faculdades privadas estão aumentando bastante, porém é algo normal, aceitável com o tempo. Mas a Barceló aumenta todo mês”, afirmou. Ela também relatou o impacto na vida de seus colegas: “Eu tenho amigos que vieram pra cá atrás de medicina mais em conta e hoje deixam de fazer uma compra completa pra casa pra completar a mensalidade.”
Justificativa da instituição
Em resposta ao protesto, a Fundación Barceló justificou os reajustes citando a inflação persistente no país, que teve um aumento de cerca de 300% no início do ano, de acordo com os dados apresentado pelo portal UOL.
Além disso, afirmou que, apesar dos aumentos, continua sendo uma das mais acessíveis no mercado argentino. Já em resposta aos alunos brasileiros, maioria dos discentes da instituição, a universidade também reiterou que oferece mensalidades cerca de seis vezes mais baratas do que as universidades privadas no Brasil.
Contexto econômico
A crise inflacionária na Argentina é apontada como um dos principais fatores para a alta frequente nos custos educacionais. Segundo o correspondente internacional Ariel Palácio, em nota ao GloboNews na última quarta (20), em nota sobre o protestos dos alunos na Barceló, o governo do presidente Javier Milei adotou medidas de liberalização econômica que flexibilizaram a regulação de preços, permitindo às instituições privadas maior autonomia na definição de seus valores.
Para o professor e economista Neidazio Rabelo, os ajustes são uma consequência natural do cenário de mercado: “Quem regula o preço é o mercado. A interferência do governo leva a grandes prejuízos. O governo argentino liberou [os preços], e o mercado busca o equilíbrio entre a capacidade de oferta e a procura”, explica o economista.
Medicina na Argentina
Durante anos, a Argentina foi o principal destino de estudantes brasileiros que buscavam realizar o sonho de cursar Medicina. Em 2022, o número de brasileiros matriculados em faculdades de medicina no país superou os 20 mil, representando um aumento de cinco vezes em sete anos, de acordo com dados extraídos da Folha de São Paulo.
A principal atração sempre foi o sistema de ensino universitário argentino, amplamente reconhecido por sua qualidade, gratuidade nas instituições públicas, valores acessíveis e a ausência de vestibular como critério de entrada. Diferente do país hermano, o Brasil tem tido cada vez mais aumento no valor da mensalidade que também tem sido um fator para a migração dos estudantes.
Essa combinação permitiu que milhares de brasileiros migrassem anualmente para o país em busca de formação médica.No entanto, diversos estudantes têm optado por migrar para outros países latinos como consequência dos altos custos de vida no país. Apesar do custo de vida elevado, a estudante Ana Júlia relata que ainda é mais vantajoso estudar medicina na Argentina do que no Brasil, mesmo pagando em torno de 6 a 7 mil reais por mês.
“Mesmo gastando esse valor aqui, no Brasil ainda é mais caro. Lá ainda teria que morar perto da faculdade e no meu estado uma faculdade não é nem 10 mil, custa em torno de 14 mil”, afirma.
*A estudante pediu para o nome não ser divulgado.
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