A formação médica no Brasil enfrenta um dilema: continuar centrada em especializações hospitalares ou priorizar a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS)?
A resposta, cada vez mais evidente, é que a atenção primária à saúde deve ocupar o centro da formação médica no país. Isso porque é nesse nível de cuidado que a maioria das pessoas busca ajuda. Além disso, a atenção primária organiza o sistema, previne doenças e promove saúde de forma contínua.
Formação médica no Brasil precisa refletir a realidade do SUS
O SUS é o maior sistema público de saúde da América Latina. Atende milhões de brasileiros diariamente, especialmente na atenção primária. No entanto, muitos cursos ainda preparam médicos para um mercado focado em especializações e tecnologias hospitalares.
Essa lógica ignora onde estão os maiores desafios da saúde pública no Brasil: nas periferias, nas comunidades, nos territórios. Por isso, é urgente alinhar a formação médica no Brasil com o modelo de saúde que realmente serve à maioria da população.
Atenção primária é a porta de entrada e o coração do cuidado
A atenção primária é o primeiro nível de contato do cidadão com o sistema de saúde. É ali que problemas simples são resolvidos, doenças crônicas são acompanhadas e ações de prevenção acontecem.
Quando bem estruturada, a atenção primária resolve até 85% dos casos. Assim, evita filas em prontos-socorros e internações desnecessárias. Ou seja, investir nesse modelo fortalece todo o SUS. Logo, a formação médica no Brasil deve começar por aí. Médicos bem formados nesse contexto aprendem a cuidar das pessoas antes de tratar das doenças.
Medicina da Família: pilar essencial para o SUS funcionar
A especialidade que organiza a atenção primária no Brasil é a Medicina de Família e Comunidade. Ela forma profissionais capazes de atuar com base no vínculo, no território e na continuidade do cuidado. Infelizmente, essa área ainda é desvalorizada em muitas universidades. Por isso, muitos médicos saem da graduação sem entender a complexidade e a importância dessa atuação.
Mudar esse cenário é urgente. A formação médica no Brasil precisa preparar médicos para cuidar das pessoas onde elas vivem, e não apenas em centros hospitalares.
Mais vínculo, menos fragmentação no cuidado
Na atenção primária, o cuidado é integral e centrado na pessoa. O médico conhece a história da família, o ambiente onde o paciente vive e seus determinantes sociais. Com isso, consegue atuar de forma mais resolutiva e humana. Além disso, esse vínculo reduz a fragmentação do cuidado. O paciente deixa de “pular” de especialista em especialista e passa a ter um médico de referência. Esse modelo é mais eficiente, mais barato e traz melhores resultados em saúde.
Portanto, se a formação médica no Brasil não priorizar esse tipo de atuação, continuará formando profissionais desconectados da realidade da maioria da população.
Uma escolha estratégica para o futuro da saúde no país
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontou que sistemas baseados na atenção primária são mais sustentáveis e equitativos. Vários países seguem esse caminho, e o Brasil, com o SUS, tem as condições ideais para ser um exemplo. No entanto, isso só será possível se a formação médica no Brasil deixar de ser elitista, hospitalocêntrica e distante das necessidades reais das pessoas.
Formar médicos para atuar na atenção primária é uma escolha política, estratégica e ética. É cuidar melhor da saúde das pessoas, dos territórios e do futuro do país.
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