Durante um ano e cinco meses, David Lohan da Silva Ramalho seguiu uma rotina rígida de estudos, com até 10 horas diárias de dedicação. Natural de Mauriti, município do interior do Ceará com cerca de 47 mil habitantes, o jovem alcançou o que para muitos parecia impossível: a aprovação no curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (UECE), uma das mais concorridas do estado.
Aos 19 anos, David se tornou o primeiro da família a ingressar no ensino superior, carregando nos ombros as expectativas dos pais, o peso das dificuldades financeiras e a devoção que sempre o acompanhou.
Desde pequeno, o jovem alimentava o sonho de ser médico. Inspirado pela vontade de cuidar das pessoas e motivado pelas carências da região onde nasceu, ele nunca enxergou outro caminho.
Rotina intensa e apoio online
Determinação não faltou. Em casa, David montou uma rotina de estudos que começava cedo e só terminava à noite. Com apoio de cursinhos online gratuitos e materiais disponíveis na internet, o jovem estruturou um cronograma rígido, intercalando matérias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que usou como porta de entrada para a UECE.
Sem acesso a cursinhos presenciais pagos ou a professores particulares, ele recorreu ao que estava ao seu alcance. Vídeos no YouTube, plataformas abertas de questões e fóruns de estudantes passaram a fazer parte de seu dia a dia.
A disciplina foi fundamental. Acordava cedo, estudava em blocos, fazia pausas controladas e mantinha uma agenda semanal com metas claras. À noite, revisava os conteúdos e, nos fins de semana, praticava redações.
Primeiro da família na universidade
Filho de um pedreiro e de uma agricultora aposentada, David representa o avanço da educação pública nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. Sua trajetória evidencia a importância de políticas de acesso à universidade e da valorização do ensino médio como ponte para o ensino superior.
A aprovação, no entanto, não foi apenas dele. Ao comemorar o resultado, David se ajoelhou, segurou um terço e chorou. A cena viralizou nas redes sociais e comoveu milhares de estudantes e educadores.
A fé como aliada
Ao longo de sua preparação, David contou com mais do que apenas técnica e disciplina. Levava consigo, em cada prova que fazia, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, presente da avó. Guardava o objeto no bolso, como forma de proteção e força espiritual. A fé o acompanhava desde a infância.
Em tempos de alta competitividade nos vestibulares e crescente pressão emocional sobre estudantes, histórias como a de David chamam atenção não apenas pelo mérito acadêmico, mas também pela dimensão humana envolvida no processo. Fé, pertencimento familiar, resiliência e perseverança se entrelaçam em uma narrativa que vai além da nota final.
Impacto nas redes sociais
A repercussão da história de David foi imediata. A imagem do jovem ajoelhado, chorando e segurando o terço após ver o nome na lista de aprovados viralizou no X (antigo Twitter), no Instagram e em grupos de vestibulandos. Muitos usuários comentaram a força simbólica do gesto, destacando a representatividade e a emoção envolvida.
Educadores, influenciadores e até professores de cursinhos online compartilharam a história como exemplo de superação.
O peso da representatividade
A aprovação de David carrega, ainda, um simbolismo que transcende o aspecto pessoal. Em um país onde a maior parte das vagas em Medicina é ocupada por estudantes oriundos de famílias de alta renda, histórias como a dele escancaram o abismo social e educacional existente, mas também apontam caminhos possíveis de superação.
Estudos recentes mostram que jovens de baixa renda, principalmente oriundos de escolas públicas, ainda enfrentam grande dificuldade para competir em igualdade com colegas de escolas particulares. A presença de estudantes como David na universidade pública reforça a importância de ações afirmativas, da gratuidade do ensino e da democratização do acesso à informação.
O futuro começa agora
Com a vaga garantida, David se prepara para mudar de cidade e iniciar a vida universitária. A adaptação será um novo desafio, mas ele já demonstra maturidade e consciência do que o espera.
Ele pretende se especializar em áreas voltadas à saúde pública e não descarta atuar futuramente em regiões semelhantes à sua cidade natal.
Enquanto prepara os documentos para a matrícula, o jovem do interior com aprovação em Medicina já começou a organizar o que levará para Fortaleza, onde fica o campus da UECE. Entre roupas, cadernos e livros, um item tem presença garantida: a imagem da santa que sempre o acompanhou.
Fonte: Terra
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