O governo de Donald Trump anunciou, em agosto, a revogação dos vistos de dois brasileiros que participaram da criação do programa Mais Médicos, o Mozart Julio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde, e Alberto Kleiman, coordenador-geral para a COP30. A medida foi destacada por veículos internacionais como parte do episódio em que o Mais Médicos, alvo do governo Trump, ganhou repercussão global.
A decisão foi divulgada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, como parte da retomada da chamada “política de restrição de vistos relacionada a Cuba”.
Segundo o comunicado, os dois teriam atuado no “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”, em referência à participação de médicos cubanos no programa entre 2013 e 2018. Rubio também ressaltou que a medida se baseia na suposta cumplicidade de Sales e Kleiman com o trabalho forçado promovido pelo governo cubano por meio do Mais Médicos.
O Departamento de Estado dos EUA acusa ambos de contribuir para o enriquecimento do “corrupto regime cubano” e de privar a população da ilha de acesso a serviços médicos.
Além disso, o comunicado aponta que a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) teria atuado como intermediária para implementar o programa sem seguir os requisitos constitucionais brasileiros, além de contornar sanções dos EUA a Cuba. A OPAS, vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não se manifestou sobre o caso.

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No atual governo de Lula, o Mais Médicos passou a priorizar a contratação de profissionais brasileiros. Segundo dados divulgados pela Agência Brasil, cerca de 93% dos 24,9 mil médicos ativos no programa são brasileiros.
O episódio acontece em meio a uma intensificação das retaliações de Trump contra o Brasil. Em julho, Washington aplicou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes, acusando o país de perseguição política contra Jair Bolsonaro, que responde a uma ação penal por suposta tentativa de golpe após a derrota eleitoral de 2022.
Padilha ressaltou que atualmente o Mais Médicos é formado majoritariamente por profissionais brasileiros e já não há parceria com Cuba, mudança adotada após críticas de parte da classe médica brasileira. Segundo ele, trata-se do “maior programa de provimento médico do mundo”, com 28 mil médicos alocados em áreas remotas. “Qual a explicação para que não exista qualquer sanção a outros países que ainda empregam médicos cubanos, e justamente aqui no Brasil se imponha punições contra servidores brasileiros e contra a família do ministro da Saúde, se não temos mais parcerias com médicos cubanos?”, questionou.
Mozart Sales também se manifestou em sua conta no Instagram. Ele afirmou que a penalidade é uma “sanção injusta” e defendeu o programa. “Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo universal, integral e gratuito”.
O que é o Mais Médicos
Segundo o Ministério da Saúde, o Programa Mais Médicos é uma política pública destinada a ampliar e melhorar o atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
A iniciativa envia profissionais de saúde para áreas estratégicas, remotas e de difícil acesso, onde há déficit de médicos, além de promover capacitação e qualificação por meio de parcerias com instituições de ensino. O objetivo central é garantir mais equidade no acesso aos serviços de saúde, elevar a qualidade do atendimento e fortalecer o vínculo entre médicos e comunidades.
O Mais Médicos integra ações do governo federal, com o apoio de estados e municípios, para reforçar a Estratégia Saúde da Família (ESF), porta de entrada preferencial do SUS e responsável por resolver cerca de 80% das demandas de saúde da população.
Estudos indicam que países que investem em Atenção Primária à Saúde (APS) obtêm melhores indicadores de saúde, maior equidade, redução de internações evitáveis e custos mais sustentáveis.
A partir de 2023, na atual gestão, o Mais Médicos foi reestruturado e ampliado, alcançando 28 mil vagas em 4.547 municípios, incluindo o atendimento em áreas indígenas e no sistema prisional, beneficiando cerca de 73 milhões de brasileiros. Além disso, no atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Mais Médicos passou a priorizar profissionais brasileiros. Segundo dados divulgados em 11 de agosto, 92,25% dos 24,9 mil médicos ativos no programa são nacionais.