De acordo com uma análise realizada pelo portal Valor Econômico, em 2024, os cursos de Medicina têm cada vez mais perdido valor nos preços das mensalidades. Apesar da estabilidade no valor do curso de Medicina, a graduação representa 40% da receita do mercado de ensino superior.
Isso não significa que os preços não estejam subindo, mas sim que, em comparação aos anos anteriores, esses valores não têm apresentado tanto crescimento. O valor médio atual apresentado pela análise indicou um crescimento de 0,83% entre os anos de 2023 e 2024. No entanto, entre os anos de 2014 a 2017, o crescimento anual era de 6%.
Este ano, já há instituições apresentando valores de mensalidade chegando a R$6 mil, embora a média se mantenha em R$10 mil. A queda nos preços tem ligação direta com o aumento da oferta dos cursos no país, segundo a pesquisa do Valor Econômico.
Brasil aumenta número de escolas médicas
Nos anos de 2013 a 2022, o Brasil registrou a maior expansão do ensino médico no país. Nesse período, foram abertos 187 cursos de medicina, de acordo com o levantamento registrado na Demografia Médica do Brasil. Desses, 146 foram em IES privadas e apenas 41 em universidades públicas. No total, o Brasil conta com 268 cursos de medicina na rede privada de ensino. Nunca se viu tamanho crescimento do curso desde sua implementação no país, em 1808.
Esse ‘boom’ no número de cursos de medicina teve início com o interesse em mantenedoras de ensino que vêem o curso como uma ‘mina de ouro’. Diante disso, o número de vagas, assim como a quantidade de escolas médicas criadas também dobrou.
Ainda segundo a Demografia Médica, no mesmo período de 2013 a 2022, a quantidade de vagas ofertadas no setor privado foi de 12.900 para 32.080. Ou seja, sofreu um crescimento de 90%. Em um comparativo, a oferta de vagas em instituições públicas subiu apenas 10% no mesmo período.
Sobram vagas e faltam alunos
Apesar do alto número de vagas para a graduação, muitas delas não estão sendo ocupadas. Segundo o Valor Econômico, atualmente, algumas instituições só estão conseguindo formar turmas recorrendo a três ou quatro listas de chamadas. Ainda assim, muitas não conseguem preencher todas as vagas, “uma realidade improvável há anos”.
Isso acaba impactando também no valor do curso de medicina, que sofre ‘diminuição’ para conseguir preencher as vagas. No ano de 2020, uma única vaga para medicina custava cerca de R$3 milhões, valor total do curso. Já em 2024, essa mesma vaga pode custear cerca de R$1,2 milhão.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Médica Brasileira, publicada em 2023, a relação candidato-vaga em escolas médicas privadas sofreu uma queda de 72,1% em oito anos. Em 2014, a razão candidato-vaga era de 31,9, já em 2022, esse número diminuiu para 8,9.
Vagas aumentam, mas qualidade diminui
Apesar da expansão do curso no Brasil, diversas instituições ainda carecem de estrutura e qualidade no ensino. A abertura indiscriminada da graduação, tem gerado risco e preocupado gestores. Em outubro de 2023, o presidente do Conselho Federal de Medicina, José Hiran Gallo, emitiu um alerta acerca da qualidade do ensino do curso, que pode prejudicar também a qualidade da assistência em saúde.
“Os dados indicam que o Brasil conta hoje com mais médicos. Observamos a criação indiscriminada de escolas médicas no País sem critérios técnicos mínimos, o que afeta a qualidade do preparo dos futuros profissionais da medicina”, afirma o presidente do CFM, José Hiran Gallo.
Textos para você entender a oferta de vagas para Medicina no Brasil.
Instituições são impedidas de abrir novos cursos
Como uma forma de “assegurar a qualidade da formação médica no Brasil”, o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu algumas regras para frear a oferta de novas vagas para medicina em instituições da rede privada.
❗Para entender todo esse processo:
- Em 2018, na gestão de Michel Temer, os processos de autorização de novos cursos de Medicina foram congelados, incluindo a ampliação de vagas. Apesar disso, algumas instituições conseguiram liminar para abertura de 6 mil vagas durante esse período de congelamento;
- Já em 2023, o MEC descongelou esse processo e voltou a autorizar a abertura de novos cursos de medicina em instituições privadas, desde que por meio de chamamentos públicos e em regiões de carência médica;
- Portanto, a partir de 2023, o governo publicaria editais sinalizando quais municípios e instituições poderiam abrir novas turmas para medicina;
- Diante disso, diversas mantenedoras de ensino discordaram da limitação e foram à justiça solicitar a abertura dos cursos em qualquer local do país, sem precisar levar em consideração a qualidade do sistema de saúde da região;
- Atualmente, o processo está em andamento na Justiça e o edital que trata sobre a autorização do MEC sobre a abertura de novos cursos de medicina está pausado.
Como critério de autorização, a pasta indicou a estrutura do sistema público de saúde do município em que está localizada a instituição e as notas do curso das edições anteriores do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
Uma resposta
Papo furado! O curso de medicina é uma afronta ao trabalhador. Eu posso pagar o curso de Medicina, mas me recuso a pagar 10 mil ou 12 mil reais. Os cursos de medicina têm o curso mais caro, pois os mercenários “doutores” exigem altos valores para darem aulas. É uma vergonha! Enquanto em Portugal, os médicos fazem greve pelos baixos salários, países como os senhores médicos cobram um fortuna e se recusam a trabalhar no Sistema Público.