A formação médica no Brasil precisa, com urgência, superar um modelo tradicional que prioriza apenas o conhecimento técnico e especializado. Para atender às reais necessidades da população, é fundamental que a formação dos médicos inclua também temas como saúde coletiva e políticas públicas. Essa mudança não é apenas uma questão acadêmica, mas uma exigência da sociedade, especialmente em um país com profundas desigualdades sociais e um sistema público de saúde complexo como o SUS.
Problemas no modelo atual da formação médica
Durante décadas, especialistas, professores e gestores da saúde vêm alertando sobre as deficiências da atual formação médica. Entre os principais problemas apontados estão:
- Currículos excessivamente teóricos e desconectados da prática;
- Separação rígida entre as fases básica e clínica do curso;
- Valorização exagerada das especialidades médicas e do uso de tecnologia;
- Falta de preparo dos docentes para lidar com realidades sociais diversas.
Esse modelo acaba formando médicos que, muitas vezes, atuam de forma distante, tecnicista e pouco sensível às condições de vida dos pacientes.
Por que incluir saúde coletiva na formação médica
A saúde coletiva estuda os determinantes sociais da saúde, como moradia, saneamento, alimentação, renda e educação. Ou seja, ela ajuda o futuro médico a compreender que a saúde vai muito além do hospital e do consultório.
Ao incluir saúde coletiva na formação médica, o estudante desenvolve uma visão mais ampla e crítica da sociedade. Ele aprende a:
- Identificar problemas de saúde que afetam grupos populacionais inteiros;
- Pensar em soluções coletivas e preventivas, não apenas curativas;
- Trabalhar em equipe com outros profissionais da saúde;
- Compreender o impacto das desigualdades sociais no adoecimento.
A importância das políticas públicas na formação médica
As políticas públicas de saúde, como o SUS, são fundamentais para garantir o acesso universal à saúde no Brasil. No entanto, para que essas políticas funcionem de forma eficiente, é preciso formar médicos que as conheçam, valorizem e saibam atuar dentro delas.
Por isso, a formação médica deve incluir conteúdos sobre:
- Organização e funcionamento do SUS;
- Direitos dos usuários do sistema público de saúde;
- Programas como a Estratégia Saúde da Família e o Mais Médicos;
- Planejamento e gestão em saúde pública.
Esse conhecimento é essencial para que o futuro médico possa atuar de forma integrada ao sistema de saúde, tomando decisões mais éticas, humanas e socialmente responsáveis.

Experiências que já promovem mudanças na formação médica
Nos últimos anos, algumas iniciativas vêm buscando transformar a formação médica no Brasil. Um exemplo importante foi a criação do Promed, um programa federal que incentivou mudanças curriculares nos cursos de medicina, com o objetivo de aproximar o ensino das necessidades da população.
Além disso, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Medicina também passaram a exigir que as universidades formem profissionais com:
- Visão crítica e humanizada;
- Compromisso com a promoção da saúde e prevenção de doenças;
- Capacidade de atuar no SUS e respeitar a diversidade cultural e regional do país.
Desafios e caminhos possíveis
Embora existam avanços, transformar a formação médica ainda é um grande desafio. Essa mudança exige:
- Maior integração entre os Ministérios da Saúde e da Educação;
- Apoio institucional para reformular currículos e capacitar professores;
- Participação ativa de estudantes, docentes e gestores;
- Avaliação dos cursos de medicina com base em critérios coerentes com essa nova abordagem.
Além disso, é preciso enfrentar resistências dentro da própria categoria médica, historicamente organizada em torno das especialidades e da atuação hospitalar. Ainda assim, com diálogo, planejamento e políticas bem estruturadas, é possível consolidar uma nova visão de medicina no país.
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Incluir saúde coletiva e políticas públicas na formação médica é essencial para preparar profissionais capazes de enfrentar os desafios do século XXI. Médicos bem formados não apenas tratam doenças, mas também compreendem as causas sociais do adoecimento, promovem saúde e contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e saudável.
Assim, repensar a formação médica é, antes de tudo, um compromisso com o futuro da saúde no Brasil.
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