Após repercussão negativa da orientação que sugeria consultas médicas de apenas 15 minutos, o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) revogou a medida e publicou uma Resolução nº 118/2025, devolvendo ao médico a autonomia para definir quanto tempo deve durar uma consulta médica a cada paciente.
A norma cita 15 minutos como referência para agendamento, mas garante liberdade para ampliar ou reduzir o intervalo conforme a complexidade clínica.
Pacientes relatam que consultas muito rápidas, especialmente na rede pública, prejudicam o esclarecimento de dúvidas, a confiança no diagnóstico e o acompanhamento adequado. A cobrança por consulta médica de 15 minutos gerou críticas em Goiânia, onde gestores sugeriram quatro atendimentos por hora em unidades ambulatoriais.
Esse modelo impacta principalmente o SUS, mas também ocorre na rede privada, onde metas de produtividade pressionam médicos a reduzir o tempo de cada consulta, aumentando o risco de atendimentos superficiais.
Os médicos precisam de um tempo adequado para abordar sintomas complexos, histórico clínico e condutas terapêuticas. Esses dados reforçam a discussão sobre a diferença entre quantidade e resolutividade no atendimento.

O que diz o CFM sobre quanto tempo deve durar uma consulta médica
De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a duração da consulta médica deve ser definida pelo profissional, que detém autonomia para ajustar o tempo necessário em cada caso, priorizando resolutividade e segurança do paciente.
Segundo Emmanuel Fortes, terceiro vice-presidente do CFM, consultas apressadas impedem que o médico avalie corretamente o problema do paciente e ofereça um atendimento resolutivo.
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“Nesses casos, a menos que se trate de um paciente que já é acompanhado por um mesmo médico há bastante tempo e que apresenta recaídas de uma mesma doença, a consulta pode ser abreviada, pois o profissional já possui o histórico daquele paciente e conhece os seus problemas”, esclarece.
Além disso, o médico precisa dedicar atenção às queixas dos pacientes, já que o diagnóstico envolve várias etapas. Consultas rápidas podem deixar passar detalhes importantes.
“Só no olhar o médico pode realizar uma inspeção prévia do paciente, observando sua cor, marcha, se possui edema, entre outros fatores. Esses detalhes são aprendidos durante o curso de Medicina para avaliação preliminar propedêutica, um aprendizado fundamental para o médico”, ressalta Fortes.
Pressão do sistema de saúde e impacto na qualidade do atendimento
O sistema de saúde enfrenta um dilema de atender a grande demanda sem comprometer a qualidade. No SUS, a pressão por produtividade transforma a referência de 15 minutos em meta rígida, limitando a autonomia médica. Na rede privada, convênios e metas financeiras podem gerar situação semelhante.
A autonomia médica Cremego defende que o profissional ajuste o tempo conforme o caso, mas também considera legítimo que pacientes busquem mais atenção e explicações durante a consulta. O desafio está em equilibrar eficiência, qualidade e humanização em um sistema que precisa atender rapidamente grandes números de pacientes.