A Residência em Cirurgia de Cabeça e Pescoço é uma das especialidades mais desafiadoras e técnicas da medicina, exigindo conhecimento profundo da anatomia, habilidades cirúrgicas refinadas e um olhar atento à oncologia.
Esta área é responsável pelo diagnóstico e tratamento cirúrgico de doenças benignas e malignas localizadas na região da face, pescoço, glândulas salivares, faringe, laringe e outras estruturas adjacentes.
Breve histórico
A Cirurgia de Cabeça e Pescoço é uma especialidade relativamente jovem, que surgiu da necessidade de lidar com doenças complexas localizadas em uma região anatômica repleta de estruturas nobres.
Com o avanço da oncologia e o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas mais precisas, especialmente a partir da década de 1950, a Cirurgia de Cabeça e Pescoço começou a se estruturar como área de atuação independente.
No Brasil, a especialidade ganhou espaço a partir da década de 1960, com a organização de serviços em hospitais como o INCA e, mais tarde, no A.C. Camargo e no Hospital de Câncer de Barretos.
Hoje, a Cirurgia de Cabeça e Pescoço é uma área fundamental no cuidado oncológico, combinando técnica cirúrgica apurada com visão ampla do paciente. Para quem está na graduação e se interessa por cirurgia, anatomia e oncologia, essa pode ser uma especialidade extremamente gratificante e desafiadora.
Importância da especialidade na medicina
Ela atua em uma região anatômica extremamente delicada e funcional, responsável pela fala, deglutição, expressão facial e comunicação – ou seja, funções que impactam a qualidade de vida do paciente.
Além disso, a especialidade é protagonista no diagnóstico e tratamento de diversos tipos de câncer, como os de boca, laringe, faringe, tireoide e glândulas salivares. Como muitos desses tumores se apresentam em estágios avançados, o cirurgião de cabeça e pescoço precisa tomar decisões rápidas e assertivas, muitas vezes realizando cirurgias complexas e de grande porte, que exigem tanto conhecimento técnico quanto sensibilidade no cuidado com o paciente.
Em resumo, a Cirurgia de Cabeça e Pescoço é crucial não apenas pela complexidade técnica, mas também pelo impacto direto na reabilitação funcional e emocional dos pacientes. Para quem busca uma função com complexidade anatômica elevada, com propósito e ampla atuação em equipe, essa é uma escolha de peso.
O que faz o especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço
O especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço é o médico responsável pelo diagnóstico e tratamento cirúrgico de tumores e outras doenças que afetam a face, pescoço, cavidade oral, laringe, faringe, tireoide, paratireoides e glândulas salivares.
Atua em cirurgias de alta complexidade, como ressecções tumorais e reconstruções, com foco em preservar funções vitais como fala, respiração e deglutição. Também integra equipes multidisciplinares no tratamento do câncer de cabeça e pescoço.
Rotina da Cirurgia de Cabeça e Pescoço
O dia a dia do cirurgião de cabeça e pescoço envolve:
- Avaliação clínica especializada: Consulta com pacientes para investigação de nódulos cervicais, alterações vocais, lesões orais, disfagia, entre outros sintomas relacionados à região da cabeça e pescoço.
- Interpretação de exames de imagem e biópsias: Análise de exames como ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética e PET-CT, além da correlação com resultados de punções e biópsias.
- Procedimentos cirúrgicos eletivos e de urgência: Realização de cirurgias para ressecção de tumores, tireoidectomias, dissecções cervicais, traqueostomias, cirurgias reconstrutivas e abordagens de vias aéreas.
- Acompanhamento no pós-operatório: Monitoramento de complicações, avaliação funcional (fala, deglutição, respiração) e planejamento de reabilitação com fonoaudiologia ou outras especialidades.
- Atuação em equipe multidisciplinar: Participação em discussões clínicas com oncologistas, radioterapeutas, patologistas, endocrinologistas e fonoaudiólogos para definição de condutas integradas.
- Ensino e atualização constante: Participação em congressos, reuniões científicas, discussão de casos e atualização em técnicas cirúrgicas, novas abordagens terapêuticas e protocolos oncológicos.
- Contato próximo com o paciente: Desenvolvimento de vínculo e orientação sobre o diagnóstico, plano terapêutico, expectativas cirúrgicas e cuidados a longo prazo, especialmente em casos oncológicos.

Principais dificuldades do dia a dia
A prática da Cirurgia de Cabeça e Pescoço impõe uma série de desafios no dia a dia do especialista, tanto do ponto de vista técnico quanto humano. Um dos principais pontos críticos está na complexidade anatômica da região, que envolve estruturas nobres e sensíveis como nervos cranianos, traqueia, esôfago, vasos importantes e órgãos responsáveis por funções vitais como fala, deglutição e respiração.
Além disso, há a constante preocupação com possíveis sequelas funcionais decorrentes das cirurgias. O cirurgião de cabeça e pescoço precisa equilibrar a remoção completa do tumor com a preservação de funções como a fala, a mastigação e a estética facial, o que nem sempre é simples.
Muitos procedimentos realizados também são longos e tecnicamente exigentes, o que representa uma demanda física e mental intensa para o profissional.
Além disso, o acompanhamento do paciente não termina com a cirurgia. O seguimento pós-operatório e a vigilância oncológica podem durar anos, o que reforça a importância de um vínculo contínuo entre médico e paciente.
Por fim, a especialidade exige uma atuação constante em equipe. O cirurgião precisa se integrar a times compostos por oncologistas, radioterapeutas, fonoaudiólogos, endocrinologistas e outros profissionais. Essa dinâmica multidisciplinar, embora enriquecedora, exige boa comunicação, capacidade de liderança e tomada de decisões compartilhadas.
Residência médica em Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Acesso: direto ou com pré-requisito?
A residência médica em Cirurgia de Cabeça e Pescoço exige pré-requisito. Para ingressar na especialidade, é necessário ter concluído previamente um programa de residência médica em Cirurgia Geral, conforme definido pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).
Esse pré-requisito é essencial, já que a formação em Cirurgia Geral fornece a base técnica e o raciocínio cirúrgico necessários para lidar com a complexidade dos procedimentos realizados na região da cabeça e pescoço, que envolve estruturas delicadas e cirurgias de alta precisão.
Duração
A residência médica em Cirurgia de Cabeça e Pescoço tem duração de 2 anos, sendo considerada uma especialidade de acesso com pré-requisito em Cirurgia Geral (que costuma durar 2 ou 3 anos, dependendo do programa).
Durante esse período, o residente passa por treinamentos intensivos em ambulatórios, centros cirúrgicos e unidades oncológicas, com foco em procedimentos como tireoidectomia, dissecções cervicais, cirurgias de laringe, ressecções tumorais e reconstrutivas.
Concorrência por vaga
A Cirurgia de Cabeça e Pescoço é uma especialidade com baixa oferta de vagas no Brasil, o que torna a concorrência relativamente alta — não tanto pela quantidade de candidatos, mas pela proporção vaga/candidato.
Como exige pré-requisito em Cirurgia Geral, o número de médicos aptos a concorrer já é naturalmente mais restrito. Além disso, muitos serviços oferecem apenas 1 ou 2 vagas por ano. Programas de instituições de referência, como o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2024, disponibilizou 4 vagas para a especialidade.
Embora não seja uma das especialidades mais disputadas em termos de número absoluto de inscritos, a combinação de alta exigência técnica, baixa disponibilidade de vagas e perfil competitivo dos candidatos torna o processo seletivo bastante desafiador.
Principais Residências
Entre os principais centros formadores estão:
- Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
- Hospital de Câncer de Barretos
- INCA (Instituto Nacional de Câncer)
- Hospital das Clínicas da USP
- A.C. Camargo Cancer Center
Remuneração do Cirurgião de Cabeça e Pescoço
A remuneração do cirurgião de cabeça e pescoço no Brasil varia bastante da região, experiência, carga horária, tipo de vínculo empregatício e estrutura de atuação (pública, privada ou consultório próprio).
Segundo dados do Portal Salário, a média salarial nacional gira em torno de R$8.097,00 mensais para uma jornada semanal de 27 horas. Já no setor hospitalar, o valor médio fica próximo a R$8.350,00, considerando uma carga horária de 24 horas semanais.
A maioria dos médicos trabalham como CLT ou PJ?
A maioria dos médicos especialistas em Cirurgia de Cabeça e Pescoço atua como Pessoa Jurídica (PJ), especialmente em hospitais privados, clínicas especializadas e centros de referência em oncologia. Esse modelo é preferido por oferecer maior autonomia na gestão da própria agenda, flexibilidade para trabalhar em diferentes instituições e, muitas vezes, uma remuneração mais atrativa em comparação ao regime CLT.
Conselhos para quem quer ser especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço
- Invista em uma base sólida em Cirurgia Geral
Como a especialidade exige pré-requisito, é fundamental aproveitar a residência em Cirurgia Geral para desenvolver habilidades técnicas, domínio anatômico e tomada de decisão cirúrgica. Isso será essencial para lidar com a complexidade das estruturas cervicais e dos casos oncológicos que você encontrará no futuro. - Busque contato com a especialidade o quanto antes
Durante a graduação ou residência, procure estágios, ligas acadêmicas e serviços que atuem com Cirurgia de Cabeça e Pescoço. A vivência precoce ajuda a entender os desafios da área, a confirmar seu interesse e até a se destacar em futuros processos seletivos de residência. - Desenvolva habilidades multidisciplinares e humanas
O cirurgião de cabeça e pescoço lida com casos de alto impacto emocional, como cânceres avançados, alterações estéticas e funções vitais. Por isso, além da técnica, é essencial desenvolver empatia, comunicação clara e capacidade de trabalhar em equipe com oncologistas, fonoaudiólogos, radiologistas e outros especialistas.