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Resumo de Fibromialgia: Epidemiologia, Fisiopatologia, Manifestações Clínicas, Diagnóstico e Tratamento

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Resumo de fibromialgia: entenda causas, sintomas, diagnóstico e tratamento dessa síndrome de dor crônica que afeta milhões de pessoas.

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Introdução

A fibromialgia (FM) é uma síndrome de dor crônica de alta relevância na prática clínica, desafiando médicos no diagnóstico e manejo. Caracteriza-se por dor musculoesquelética difusa, frequentemente acompanhada de fadiga, distúrbios do sono e alterações cognitivas.

Compreender a fibromialgia é crucial, pois afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes e demanda uma abordagem terapêutica multifacetada.

Este artigo oferece uma revisão objetiva sobre a fibromialgia, focando no diagnóstico e tratamento, essencial para estudantes de medicina e profissionais que buscam atualização.

O que é Fibromialgia?

Fibromialgia é uma síndrome clínica crônica caracterizada por dor musculoesquelética difusa, fadiga persistente, sono não reparador e distúrbios cognitivos.

Não é considerada doença inflamatória ou autoimune primária, e sim uma condição de sensibilização central, resultante de disfunção nos mecanismos do sistema nervoso central que modulam a dor.

A etiologia é multifatorial, envolvendo predisposição genética (alterações em genes que modulam neurotransmissores, canais iônicos, neuroplasticidade, entre outros) e fatores ambientais desencadeantes, como traumas físicos/emocionais, infecções, distúrbios do sono e estresse crônico.

Há formas adultas e juvenis, podendo se apresentar com diferentes intensidades e combinações sintomáticas.

Epidemiologia

A fibromialgia tem distribuição mundial, com prevalência estimada entre 2-3% da população adulta no Brasil e 2-8% globalmente. Os principais fatores de risco incluem:

  • Sexo feminino (razão mulher:homen ~5-9:1)
  • Idade entre 30 e 60 anos (mas pode ocorrer em qualquer faixa etária)
  • Histórico familiar positivo
  • Presença de doenças reumáticas concomitantes (AR, LES)
  • Trauma físico ou emocional prévio
  • Estresse crônico, ansiedade ou depressão
  • Baixa escolaridade e sobrecarga psicossocial


Populações vulneráveis incluem mulheres, indivíduos com doença reumática, crianças (em síndrome juvenil) e população transgênero. Não há sazonalidade definida nem obrigatoriedade de notificação.

Fisiopatologia

Nos trajetos ascendentes do segundo neurônio motor, encontram-se duas categorias de receptores: os alfa-amino-3-hidroximetil-5-4-isoxazolpropiônico (AMPA), que permanecem ativos e são responsáveis pela transmissão sináptica e condução dos impulsos nervosos, e os receptores N-metil D-aspartato (NMDA), que ficam inativos devido ao bloqueio exercido pelo íon magnésio.

Durante condições patológicas como a fibromialgia (FM), desenvolve-se o processo de wind-up: concentrações elevadas de glutamato deslocam o íon magnésio, ativando os receptores NMDA e permitindo um intenso influxo de cálcio, facilitando a transmissão do impulso nervoso através desta via.

Neste cenário, as quinases dependentes de cálcio promovem a liberação da substância P, que na fibromialgia é observada em concentrações elevadas, gerando o processo de sensibilização central, que se caracteriza por sinapses mais eficazes e expansão da área dolorosa.

Estabelecem-se então a hiperalgesia, que é a resposta exagerada aos estímulos dolorosos, e a alodínia, situação em que estímulos normalmente não dolorosos passam a provocar dor.

Adicionalmente, o controle da dor torna-se deficiente, pois há redução na liberação de serotonina e norepinefrina no espaço sináptico (substâncias que inibem a dor), diminuição da ativação dos receptores opioides nas vias descendentes e redução da ativação dos interneurônios inibitórios (encarregados da liberação do neurotransmissor inibitório – GABA).

Verificou-se também hiperatividade do glutamato em regiões do sistema límbico, incluindo a ínsula e a amígdala, responsáveis pelo intenso componente emocional da dor nesses pacientes. Distúrbios do sono e alterações endócrinas também participam da fisiopatologia desta condição.

Quadro Clínico

Os sintomas clínicos incluem fadiga, distúrbio de sono, falta de memória, distúrbio de humor e cefaleia.

O sintoma cardinal é a dor musculoesquelética crônica (≥3 meses) e difusa, afetando ambos os lados do corpo, acima e abaixo da cintura, e o esqueleto axial. A dor é frequentemente descrita como queimação, pontadas ou peso, e pode variar em intensidade e localização.

Manifestações Clínicas Comuns incluem:

  • Fadiga persistente e intensa: Não aliviada pelo repouso, podendo ser tão incapacitante quanto a dor.
  • Distúrbios do sono: Principalmente sono não reparador; os pacientes acordam cansados. Insônia inicial e de manutenção são frequentes.
  • Sintomas cognitivos (“fibro fog”): Dificuldade de concentração, problemas de memória de curto prazo, lentificação do pensamento.
  • Distúrbios de humor: Ansiedade e depressão são comorbidades comuns.
  • Sintomas somáticos comuns: Cefaleia (tensional ou enxaqueca), parestesias (dormência, formigamento), rigidez matinal generalizada, síndrome do intestino irritável (em até 60% dos pacientes).

Manifestações de gravidade e/ou menos comuns:

  • Hipersensibilidade sensorial: A luzes fortes, sons altos e odores intensos.
  • Dor torácica não cardíaca: Costocondralgia.
  • Sintomas geniturinários: Bexiga irritável, dismenorreia, vulvodinia.
  • Sintomas Sicca: Olho seco e boca seca.


A apresentação pode variar, com alguns pacientes desenvolvendo dor localizada antes da generalização ou com predomínio de fadiga ou “fibro fog”.

Diagnóstico

O diagnóstico da fibromialgia é eminentemente clínico, baseado na anamnese e no exame físico, pois não existem marcadores laboratoriais ou de imagem específicos.

1.Anamnese: Avaliar a história de dor difusa crônica (≥3 meses). Detalhar início, localização, caráter, intensidade e fatores de piora/melhora da dor; investigar sintomas associados (fadiga, sono, cognição, humor); avaliar impacto funcional; histórico de tratamentos e comorbidades.: início, progressão, intensidade, localizações.

2.Utilizar os critérios do American College of Rheumatology (ACR), como os de 2016, que consideram o Índice de Dor Generalizada (IDG ou WPI) e a Escala de Gravidade dos Sintomas (EGS OU SSScale):

  • Dor por tempo ≥ 3 meses
  • Dor em pelo menos 4 de 5 regiões
  • WPI ≥ 7 and SSS ≥ 5 and WPI 4-6 and SSS ≥ 9


⚠️ CUIDADO: Hoje o diagnóstico pode ser feito independentemente de outros diagnósticos, não é necessário descartar todas as outras condições que poderiam explicar os sintomas se os critérios acima forem atendidos.

Confira os critérios para avaliar as dores:

1. Índice de Dor Generalizada (IDG)

Na semana passada, onde você teve dor?(marque todas que se aplicam)

Região superior esquerda 

  • [ ] Mandíbula esquerda
  • [ ] Cintura escapular esquerda
  • [ ] Braço superior esquerdo
  • [ ] Antebraço esquerdo

Região superior direita 

  • [ ] Mandíbula direita
  • [ ] Cintura escapular direita
  • [ ] Braço superior direito
  • [ ] Antebraço direito

Região inferior esquerda 

  • [ ] Quadril esquerdo (nádegas/trocânter)
  • [ ] Coxa esquerda
  • [ ] Perna esquerda

Região inferior direita 

  • [ ] Quadril direito (nádegas/trocânter)
  • [ ] Coxa direita
  • [ ] Perna direita

Região axial 

  • [ ] Pescoço
  • [ ] Parte superior das costas
  • [ ] Parte inferior das costas
  • [ ] Tórax
  • [ ] Abdome

Total: ______ Escore IDG (some as caixas marcadas, 0-19)

Número de regiões marcadas:______ 


2. Escore de Gravidade dos Sintomas (EGS)

Para cada um dos seguintes sintomas, na semana passada, avalie:

Sintoma0 = Sem problema1 = Problema leve ou discreto, frequentemente leve ou intermitente2 = Problema moderado, considerável, frequentemente presente3 = Problema grave, generalizado, contínuo, perturbador da vida
Fadiga    
Acordar sem se sentir descansado    
Sintomas cognitivos    

Na semana passada, você foi incomodado por algum dos seguintes?

Sintoma0 = Sem problema1 = Com problema
Dores de cabeça  
Dor ou cãibras no abdome inferior  
Depressão  

Total EGS: _______ (0-12)


Tratamento

O manejo é multidisciplinar e individualizado.

Abordagens terapêuticas principais:

  1. Educação e automanejo: Esclarecer sobre a patologia, estabelecer metas alcançáveis e desenvolver mecanismos de adaptação e estratégias de enfrentamento.
  2. Exercício físico: Exercícios aeróbicos, de fortalecimento muscular e flexibilidade, implementados gradualmente sob orientação profissional. No início a prática de atividade física pode ser dolorosa, mas não deve ser desencorajada. 
  3. Terapias psicológicas: Terapia cognitivo-comportamental (TCC), técnicas de relaxamento, mindfulness, entre outros, como modificadores de pensamentos e comportamentos disfuncionais relacionados à dor e ao estresse.
  4. Tratamento farmacológico:
    • Inibidores duais (inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina [SNRI]): Duloxetina, Venlafaxina.
    • Tricíclicos em baixas dose, administrados antes de dormir, melhoram o sono e a dor: Amitriptilina, Ciclobenzaprina.
    • Anticonvulsivantes (alfa-2-delta ligantes) agonistas do GABA para quadros álgicos e de insônia importantes: Pregabalina, Gabapentina.
    • Tramadol é o único opióide que inibe a recaptação de serotonina e norepinefrina e pode ser associado a analgésicos comuns para maior controle da dor.
    • Outras terapias devem ser avaliadas para tratamento das comorbidades associadas.
  5. Manejo de suporte: Higiene do sono, fisioterapia, rotina adequada de repouso, suporte social.
  6. Populações especiais: Crianças, idosos, gestantes e pessoas com comorbidades exigem ajuste das intervenções e monitoramento próximo.

Complicações

As complicações da fibromialgia estão relacionadas ao impacto crônico dos sintomas:

  • Redução significativa da qualidade de vida.
  • Incapacidade funcional para atividades diárias e laborais.
  • Transtornos psiquiátricos comórbidos (depressão, ansiedade).
  • Isolamento social.
  • Descondicionamento físico.
  • Risco de uso inadequado de medicamentos, especialmente analgésicos.
  • Problemas financeiros devido à incapacidade laboral e custos de tratamento.

Conclusão

A fibromialgia é uma condição crônica e complexa que exige uma abordagem diagnóstica clínica cuidadosa e um plano de tratamento individualizado e multidisciplinar. O reconhecimento da sensibilização central como mecanismo fisiopatológico chave direciona as terapias para a modulação do processamento da dor no SNC.

Para a prática clínica, é essencial validar os sintomas do paciente e implementar uma combinação de estratégias farmacológicas e não farmacológicas, com destaque para a educação do paciente e a promoção do autocuidado. 

Resumo técnico elaborado pela Dra. Olyvia Spontan:

Dra. Olyvian Spontan

Olyvia Spontan é médica formada pela Universidade Tiradentes (UniT) em 2022, com formação sanduíche na UPAEP (Universidad Popular Autónoma del Estado de Puebla – México) – ano de 2016.

Atua como médica reguladora e temexperiência em regulação de urgências e regulação de leitos. Além disso, é entusiasta da tecnologia, aliada à IA para redação de textos médicos, dos quais hoje é revisora.

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