A pneumonia é responsável por mais de 2,5 milhões de mortes no mundo a cada ano. No Brasil, essa condição representa a principal causa de internação hospitalar no Sistema Único de Saúde, excluindo causas obstétricas, com mais de 598 mil internações anuais. Neste resumo completo, você descobrirá tudo sobre pneumonia: desde os primeiros sintomas até as opções de tratamento.
Definição e Classificação
A pneumonia é um processo inflamatório agudo que acomete as estruturas mais distais do pulmão, incluindo os alvéolos, bronquíolos e o interstício adjacente.
Existem várias formas de classificar a pneumonia, sendo a mais importante baseada no local onde a infecção foi adquirida:
- Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC): Desenvolvida fora do ambiente hospitalar ou nas primeiras 48 horas de internação. É a forma mais comum, geralmente causada por Streptococcus pneumoniae.
- Pneumonia Nosocomial ou Pneumonia Adquirida no Hospital (PAH): Surge após 48 horas de internação hospitalar. Causada por patógenos muitas vezes multirresistentes comuns no ambiente hospitalar.
- Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM): Se desenvolve em pacientes que necessitam de ventilação mecânica.
Além disso, pode-se classificar também pelo agente etiológico:
- Pneumonia Bacteriana: Causada por uma vasta gama de bactérias, foi dividida em “típica“, com apresentação aguda e causada por agentes como Streptococcus pneumoniae, e “atípica“, de curso mais insidioso e causada por microrganismos atípicos.
- Pneumonia Viral: Causada por vírus respiratórios, como Influenza, Vírus Sincicial Respiratório (VSR), Adenovírus e Coronavírus, incluindo o SARS-CoV-2.
- Pneumonia Fúngica: Forma mais rara da doença, que acomete geralmente indivíduos com sistema imunológico comprometido, como pacientes com HIV/SIDA, transplantados ou em uso de quimioterapia.
- Pneumonia Química ou Aspirativa: Não é primariamente infecciosa, resultando da lesão pulmonar causada pela inalação de substâncias tóxicas, como fumaça, vapores químicos ou pela aspiração de conteúdo gástrico. Pode, subsequentemente, evoluir para uma infecção bacteriana secundária.
Epidemiologia
A pneumonia representa um desafio global de saúde pública. Apesar dos avanços em vacinas e antibióticos, mundialmente, é uma das principais causas de morte por doenças infecciosas, sendo responsável por aproximadamente 2,5 milhões de óbitos anuais, incluindo 672 mil crianças.
Grupos de maior risco incluem:
- Crianças menores de 5 anos, especialmente menores de 6 meses
- Pessoas com 65 anos ou mais
- Indivíduos com doenças crônicas e principalmente doenças crônicas pulmonares (ex.: DPOC, asma)
- Pessoas imunossuprimidas
- Tabagistas e etilistas crônicos
- Fatores socioeconômicos: maior incidência em populações com menor acesso a cuidados de saúde, nutrição inadequada e condições precárias de moradia
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Fisiopatologia
A principal forma de contaminação é a microaspiração de secreções colonizadas da orofaringe. Outras vias incluem inalação direta de aerossóis infectados e, raramente, disseminação pela corrente sanguínea a partir de outros focos infecciosos.
O sistema respiratório possui defesas naturais – como o reflexo da tosse, o epitélio ciliado e células de defesa locais. Quando esses mecanismos são superados por patógenos, a infecção se estabelece.
Uma vez instalados nos alvéolos, os microrganismos desencadeiam a liberação de citocinas pró-inflamatórias e promovem o recrutamento de macrófagos. O resultado é o preenchimento dos alvéolos com infiltrado inflamatório, que impede a troca gasosa adequada, levando à hipoxemia e aos sintomas respiratórios característicos da doença.
Manifestações Clínicas
A pneumonia pode se apresentar de diferentes maneiras, desde quadros clássicos facilmente reconhecíveis até formas mais sutis que podem confundir mesmo profissionais experientes. Nesse aspecto, geralmente as infecções com germes gram-positivos (maioria dos casos) têm apresentações mais súbitas, enquanto infecções por germes mais atípicos podem ter cursos mais insidiosos.
Sintomas principais:
- Febre: Geralmente alta, acompanhada de calafrios intensos.
- Tosse: Pode ser seca no início, evoluindo para produtiva com escarro amarelado, esverdeado ou com traços de sangue.
- Dor torácica pleurítica: Dor aguda que piora ao tossir ou respirar profundamente.
- Dispneia
Os sintomas associados são secundários à maioria das infecções: astenia, mialgia, anorexia, cefaleia, calafrios, entre outros.
Apresentação em idosos: Em pessoas mais velhas, a pneumonia pode se manifestar de forma atípica, com delirium, quedas inexplicadas, anorexia e declínio funcional súbito, mesmo sem febre ou sintomas respiratórios evidentes.
Diagnóstico
O diagnóstico da pneumonia é apenas clínico para pacientes ambulatoriais, leves a moderadamente enfermos, sendo feito a partir da história clínica e exame físico. Quando necessário, por exemplo para pacientes com necessidade de internação, devem ser usados exames complementares.
Anamnese:
- Comorbidades (DPOC, diabetes, imunossupressão), tabagismo e etilismo, uso recente de antibióticos e quais, histórico vacinal (pneumococo, influenza, COVID);
- Início e progressão dos sintomas mais comuns;
- Características da tosse (seca vs. produtiva) e expectoração (cor, volume);
- Sintomas sistêmicos associados;
- Local de aquisição da infecção (comunidade vs. hospital) e fatores de risco para patógenos multirresistentes;
- Estratificar gravidade clínica para definir local de tratamento.
Exame físico:
- Sinais vitais
- Ausculta pulmonar: presença de estertores crepitantes é o achado mais característico.
- Percussão: presença de som maciço ou submaciço sobre a área afetada.
- Palpação: aumento do frêmito toracovocal na região afetada.
Exames complementares para quando necessário:
- Radiografia de tórax: mostra áreas de consolidação pulmonar características da pneumonia. As incidências PA e perfil oferecem visão completa dos pulmões.
- Laboratoriais: o hemograma pode revelar aumento de leucócitos, sugerindo infecção bacteriana. Marcadores inflamatórios como PCR ajudam a avaliar a intensidade da inflamação.
- Painel viral: A fim de identificar o agente etiológico, o que nem sempre é possível. Testa para Influenza A e B, RSV e SARS-CoV-2.
- TC de Tórax: Para quando se tem casos mais complexos, que necessitam de exames de imagem que tragam maior detalhamento.
Principais Diagnósticos Diferenciais: Bronquite, edema pulmonar, tuberculose
Tratamento
O tratamento da pneumonia exige abordagem rápida e estratificada. O princípio fundamental é o início precoce da antibioticoterapia, pois atrasos estão associados ao aumento da mortalidade.
Medidas não-farmacológicas:
- Repouso adequado para conservar energia
- Hidratação abundante (2-3 litros/dia se não houver contraindicação)
- Umidificação do ar ambiente – pode-se fazer nebulização com SF0,9% para fluidificação da secreção
- Fisioterapia respiratória quando indicada
Tratamento farmacológico por cenário:
PAC ambulatorial (baixo risco):
- β-lactâmico: Medicação de primeira escolha é a Amoxicilina.
- Após 48h de uso de antibiótico, o paciente deve ser reavaliado e, no caso de não melhora, faz-se a associação de β-lactâmico com inibidor da β-lactamase: Amoxicilina + Clavulanato de Potássio.
- Quando o quadro é mais insidioso ou o paciente tem comorbidades, pode-se associar ainda Amoxicilina OU Amoxicilina + Clavulanato com Azitromicina.
PAC hospitalar:
- Ceftriaxona + Azitromicina
- Se risco para Pseudomonas: Piperacilina/tazobactam + Ciprofloxacino
⚠️ ATENÇÃO:
- Gravidez e lactação: Preferir amoxicilina e evitar fluoroquinolonas
- População pediátrica: Ajustar doses conforme peso e idade
- Insuficiência renal: Observar necessidade de ajuste de dose
- Pacientes alérgicos à penicilina: Utilizar macrolídeos ou fluoroquinolonas
Conclusão
A pneumonia representa uma condição séria, mas completamente tratável quando diagnosticada precocemente e manejada adequadamente.
Pontos principais para recordar: O reconhecimento precoce dos sintomas – especialmente febre, tosse e dor no peito – é fundamental para o sucesso do tratamento. A classificação epidemiológica orienta a escolha terapêutica inicial, enquanto hábitos saudáveis reduzem significativamente o risco de desenvolvimento da doença.
A prevenção continua sendo nossa melhor arma: Vacinação contra pneumococo e influenza, cessação do tabagismo, higiene adequada das mãos e tratamento de condições crônicas são medidas simples, mas extremamente eficazes na redução da incidência de pneumonia.
Busque sempre orientação médica se apresentar sintomas sugestivos de pneumonia. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado não apenas aceleram a recuperação, mas previnem complicações graves que podem comprometer sua qualidade de vida. Lembre-se: pneumonia é uma emergência médica que requer atenção profissional especializada.
Resumo técnico elaborado pela Dra. Olyvia Spontan:

Olyvia Spontan é médica formada pela Universidade Tiradentes (UniT) em 2022, com formação sanduíche na UPAEP (Universidad Popular Autónoma del Estado de Puebla – México) – ano de 2016.
Atua como médica reguladora e tem experiência em regulação de urgências e regulação de leitos. Além disso, é entusiasta da tecnologia, aliada à IA para redação de textos médicos, dos quais hoje é revisora.