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Como o Mais Médicos influencia a formação médica no Brasil

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Criado em 2013, o programa Mais Médicos surgiu para enfrentar a escassez de profissionais de saúde em regiões vulneráveis do país. No entanto, seus efeitos ultrapassaram o atendimento imediato à população: o impacto do Mais Médicos na formação médica tem sido significativo, ao influenciar desde a criação de novos cursos até mudanças na grade curricular e no perfil dos egressos. Ao longo dos anos, a política pública ajudou a consolidar uma nova lógica de formação voltada para a atenção básica e a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste artigo, exploramos como Mais Médicos e formação médica se tornaram temas indissociáveis no debate sobre o futuro da saúde no Brasil.

O que é o Programa Mais Médicos

O Programa Mais Médicos surgiu como uma resposta emergencial do Governo Federal à escassez de profissionais da saúde em regiões periféricas, rurais e com menor cobertura médica. Com o objetivo de ampliar o acesso à atenção básica e reduzir desigualdades no sistema público, a iniciativa provocou impactos diretos na assistência em saúde e, com o tempo, também passou a influenciar o cenário da formação médica no Brasil.

O programa é composto por três eixos principais: a provisão de médicos para áreas vulneráveis, a reestruturação da infraestrutura das unidades de saúde e a reformulação da formação médica, incentivando a criação de novos cursos e vagas de graduação e residência médica em localidades com carência de profissionais.

O programa também instituiu critérios para abertura de novos cursos de Medicina, cidades com baixa densidade médica, carência de escolas médicas, capacidade mínima de infraestrutura hospitalar, distância de outras instituições, entre outros requisitos.

Expansão dos cursos de Medicina e interiorização

Abertura massiva de vagas

Desde 2004 houve crescimento acelerado: de 143 escolas médicas para 448 em 2024; as vagas passaram de cerca de 13.820 para 48.491 no mesmo período, com uma média de criação anual de cerca de 2.538 vagas. Mais de 79% dessas vagas estão em instituições privadas.

De 2010 a 2020 foram abertas mais de 20 mil vagas, com crescimento superior a 120%; o número de escolas subiu de 143 para 389 em 2024. O setor privado respondeu por mais de 90% das novas vagas desde 2014, reduzindo drasticamente a proporção pública (hoje apenas 1 em cada 5 vagas é pública).

Interiorização da formação

Em 2004 mais da metade das vagas estava concentrada em capitais (~51,2%); até 2024 esse índice caiu para ~34,8%, com quase dois terços (65,2%) das vagas em cidades do interior — inclusive médias e pequenas. Detalhe: 21,6% das vagas estão em cidades com mais de 300 mil hab., 28,8% em cidades entre 100–300 mil hab., e 14,8% em municípios até 100 mil hab.

Relatos do CFM indicam que o programa impulsionou abertura em 81 municípios, com criação de cerca de 5.300 vagas em dois anos (1.700 em públicas e 3.600 privadas), em localidades antes sem cursos médicos. Critérios como ausência de curso próximo, distância mínima, infraestrutura de saúde e número de leitos foram exigidos nos editais.

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Efeitos na qualidade e desafios

Apesar do avanço, surgem múltiplos desafios, como a qualidade do ensino e a judicialização dos novos cursos e vagas para Medicina.

Qualidade do ensino

Especialistas e órgãos como o Conselho Federal de Medicina (CFM) apontam risco à qualidade: muitos cursos recém-criados carecem de infraestrutura adequada (laboratórios, hospitais de ensino), corpo docente qualificado e estágios práticos bem supervisionados. A crítica chama esse fenômeno de “mercantilização” da formação médica, cursos criados por investidores, com vista mais ao lucro do que à vocação educacional.

Levantamentos registram que mais de 80% dos municípios com cursos não têm número mínimo de leitos por aluno, 53% excedem o limite de alunos por equipe da Estratégia Saúde da Família, e 73% não têm hospital de ensino.

Judicialização

Houve uma suspensão de abertura de novos cursos entre 2018 e 2023, mas muitas instituições recorreram ao Judiciário para obter autorizações, o que fragilizou o controle de qualidade e gerou expansão mesmo em locais sem condições adequadas.

Saturação e fixação

A ausência de políticas públicas que incentivem médicos a permanecer nas regiões onde estudam provoca migração de formandos para grandes centros, aumentando a concentração onde já há abundância de médicos. Estimativas sugerem que até 2028─2035 o Brasil pode atingir entre 3,5 a mais de 4 médicos por mil habitantes, superando médias da OCDE, o que levanta dúvidas sobre a real necessidade de mais expansão sem critérios de fixação.

Residência médica

Embora o programa previa compromisso de criação de vagas de residência equivalentes ao número de egressos, na prática o déficit persistiu: em 2024 havia cerca de 16.189 vagas restritas, frente a mais de 27 mil recém-formados, deixando muitos sem especialização. Sem residência, o novo médico enfrenta maior dificuldade para se fixar e atuar com segurança.

Impactos no currículo de Medicina

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de 2014 exigem internato de 35% da carga horária (com 30% em APS/urgência e máximo de 20% por área), preceptor supervisionado, estágio em atendimento primário etc. No entanto, muitos cursos novos, especialmente em interior, carecem de clínicas conveniadas, hospitais ou preceptoria adequada.

Há experiências mais modernas — como currículos em espiral e internato com 3 anos, com nota máxima no Sinaes — mas são exceção. No geral, a expansão acelerada dificultou a adoção plena de metodologias pedagógicas robustas e atualizadas.

O Programa Mais Médicos, ao incentivar a abertura de novos cursos e vagas no ensino médico, especialmente no interior, teve papel decisivo na interiorização da formação médica no Brasil. Ele expandiu o número de vagas, levou cursos a regiões antes carentes e alterou o perfil geográfico da oferta, reduzindo a concentração nas capitais. Para vestibulandos e estudantes, isso significa mais chances de estudar Medicina em regiões de menor porte.

Por outro lado, o crescimento rápido, impulsionado majoritariamente pelo setor privado, levantou sérios desafios relacionados à qualidade da formação médica. Problemas como falta de infraestrutura, corpo docente limitado, judicialização da abertura de cursos, déficit de vagas em residência e ausência de incentivos para que médicos fiquem onde se formaram ameaçam a eficácia real dessa interiorização.

Palavras-chave importantes que emergem nesse debate são: Mais Médicos, formação médica, interiorização, qualidade do ensino, expansão de vagas, residência médica, infraestrutura. Em resumo: Mais Médicos teve papel catalisador na expansão e interiorização, mas trouxe desafios que exigem atenção continuada e aprimoramento das políticas de regulação educacional.

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