Reduzir o uso excessivo do celular por apenas três dias já provoca alterações químicas no cérebro em áreas ligadas a mecanismos de recompensa e vício, aponta um estudo da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, publicado no periódico Computers in Human Behavior. Segundo os pesquisadores, o uso excessivo do celular tem sido comparado a transtornos aditivos, uma vez que evidências sugerem impactos em diferentes dimensões do bem-estar.
No entanto, especialistas alertam que a influência vai além do aspecto químico cerebral. De acordo matéria publiocada na CNN Brasil, o uso excessivo do celular, especialmente das redes sociais, pode agravar quadros de ansiedade, depressão, distúrbios do sono e dificuldades de concentração. Nesse sentido, o celular pode atrapalhar nos estudos ao comprometer a atenção, o rendimento escolar e a qualidade do aprendizado.
Alterações no cérebro causadas pelo uso excessivo do celular
Para avaliar os efeitos da redução do uso excessivo do celular, pesquisadores selecionaram 25 jovens entre 18 e 30 anos e limitaram o uso a tarefas essenciais durante 72 horas. Exames de ressonância magnética mostraram mudanças em áreas relacionadas ao desejo e ao sistema de recompensa.
Quando os voluntários observavam imagens de celulares, houve ativação de regiões associadas a dependência de substâncias, como o núcleo accumbens. “Isso pode sugerir uma demonstração de um desejo mais intenso pelo uso do celular”, avaliou o psiquiatra Gabriel Garcia Okuda, do Einstein Hospital Israelita.
Além disso, foram registradas ativações em vias de dopamina e serotonina, neurotransmissores ligados à regulação do humor e à dependência. Os resultados também apontaram melhora no sono e no humor após o período de restrição. Apesar disso, o estudo tem limitações, como a ausência de grupo controle e o tamanho reduzido da amostra.
Impactos em adolescentes e nos estudos pelo uso excessivo do celular

Paralelamente, o uso excessivo do celular entre adolescentes tem sido relacionado ao agravamento de problemas emocionais em jovens de 12 a 17 anos. Um consenso internacional apoiado pela OMS e pela Academia Americana de Pediatria destaca que a exposição prolongada às plataformas pode intensificar quadros de ansiedade, depressão, transtornos alimentares e distúrbios do sono.
De acordo com Gustavo Yamin Fernandes, coordenador de psiquiatria do Hospital Samaritano Higienópolis, os riscos são maiores nessa faixa etária. “O uso problemático não se resume ao tempo de tela, mas à perda de controle, ao sofrimento emocional e aos prejuízos nas atividades diárias. A comparação constante com padrões idealizados impacta diretamente o bem-estar dos jovens”, afirma.
Paula Gibim, psiquiatra do Hospital Samaritano Barra, reforça que a presença constante das redes e do uso excessivo do celular afeta o sono, a atenção e até a autoestima. “A presença constante das redes afeta o sono, os hábitos alimentares, a autoestima e até a qualidade dos relacionamentos fora do ambiente digital”, disse.
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Transtornos associados ao uso excessivo do celular
Diversos estudos apontam que o uso excessivo do celular favorece o surgimento ou agravamento de quadros como TDAH, depressão e ansiedade. A exposição contínua a imagens editadas e padrões inatingíveis gera frustração e insegurança corporal. “Adolescentes passam a se comparar não com a realidade, mas com versões editadas de outras pessoas. Isso distorce a percepção e eleva as cobranças internas”, destacou Fernandes.
Gibim acrescenta que meninas são particularmente expostas a conteúdos que incentivam dietas extremas ou estéticas irreais. Além disso, há risco de contato com grupos que estimulam práticas autoagressivas. Segundo a especialista, muitos sinais surgem de forma sutil e podem ser confundidos com mudanças naturais da adolescência, exigindo maior atenção dos pais.
Prevenção e uso consciente
Para reduzir os impactos negativos, especialistas defendem supervisão ativa e limite de tempo de tela. A recomendação da OMS é que adolescentes não ultrapassem duas horas diárias de lazer digital e que o uso excessivo do celular seja evitado antes de dormir. O Ministério da Saúde também orienta que o acesso às redes sociais seja desencorajado antes dos 12 anos.
Pequenas ações, como momentos “offline” em família, podem ajudar no equilíbrio. “O comportamento online precisa ser supervisionado, incluindo o tempo de uso, os tipos de conteúdo acessados e as interações mantidas. A resistência à supervisão também pode ser um sinal de alerta”, ressaltou Gibim.
Fernandes complementa que escolas devem adotar políticas de uso consciente da tecnologia e incentivar atividades presenciais. “O exemplo dos adultos também pesa. Pais e professores precisam refletir sobre como usam a tecnologia, porque adolescentes tendem a repetir esses modelos”, concluiu.
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