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Interior ou capital? O que médicos precisam saber antes de atuar longe dos grandes centros

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A distribuição médica no Brasil segue desigual entre capitais e interior. Entenda os desafios e oportunidades para estudantes e médicos.

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Antes de escolher onde atuar, estudantes e médicos recém-formados precisam encarar uma realidade: o Brasil continua com uma distribuição médica profundamente desigual. Apesar do crescimento expressivo no número de profissionais e faculdades, a concentração nas capitais e grandes cidades se mantém, e isso impõe desafios e oportunidades para quem pensa em trabalhar no interior.

De acordo com a Demografia Médica 2025, elaborada pela FMUSP e o Conselho Federal de Medicina, o país ultrapassou a marca de 635 mil médicos ativos. A projeção para 2035 é de mais de 1,15 milhão, com uma densidade de 5,2 médicos por mil habitantes. 

Mais da metade dos médicos (58%) trabalham em municípios com mais de 500 mil habitantes, onde vive apenas 31% da população. Já os municípios com menos de 50 mil habitantes abrigam 31% dos brasileiros, mas contam com apenas 8% dos médicos. 

A desigualdade da distribuição médica salta ainda mais quando se compara as capitais com o interior: enquanto nas capitais há cerca de 7 médicos por mil habitantes, no interior esse número despenca para menos de 2.

Essa diferença afeta diretamente o acesso à saúde e sobrecarrega profissionais que escolhem (ou precisam) atuar longe dos grandes centros. Mas, afinal, vale a pena?

Por que pode fazer sentido ir para o interior?

Para quem decide se fixar em cidades pequenas, o dia a dia costuma ser desafiador. Médicos relatam falta de estrutura básica, ausência de equipes multidisciplinares, dificuldades com transporte sanitário, rede de referência fragilizada e ausência de retaguarda hospitalar. 

Em muitos casos, médicos precisam resolver tudo sozinhos, sem apoio de especialistas ou exames complementares.

Além disso, atrasos salariais e contratos precários ainda fazem parte da rotina em várias regiões. Há médicos que relatam calotes de prefeituras, falta de concurso público e promessas de plano de carreira que nunca se concretizam.

O impacto sobre a formação também deve ser considerado. Quem deseja seguir para uma especialidade mais concorrida ou desenvolver uma carreira acadêmica encontrará menos oportunidades de atualização, pesquisa e supervisão direta em locais afastados. 

A distância dos grandes centros compromete o acesso a eventos científicos, redes de contato e cursos de atualização contínua.

Apesar dos desafios, trabalhar fora das capitais pode representar uma oportunidade real, dependendo do perfil do médico e de seus objetivos profissionais. Quem tem afinidade com medicina de família e comunidade, ou deseja atuar como generalista, encontra no interior um campo vasto, com alta demanda e menos competição.

Além disso, médicos que optam por abrir consultório próprio em cidades pequenas podem conquistar espaço mais rápido, especialmente em especialidades clínicas como Pediatria, Ginecologia, Psiquiatria e Clínica Médica. Em muitos casos, o vínculo com a rede pública pode ser complementado com atuação privada ou por meio de telemedicina.

A tecnologia também vem ajudando a ampliar o acesso. Projetos como unidades móveis de saúde e sistemas de telerradiologia viabilizam atendimentos em regiões distantes com apoio técnico especializado, mesmo à distância. A telessaúde, inclusive, já está regulamentada no país e cresce em todo o território.

Regiões mais afetadas pela desigualdade da distribuição médica

A escolha de onde atuar exige atenção às desigualdades regionais que marcam profundamente a distribuição de médicos no Brasil. Dados da Demografia Médica 2025, elaborada pela FMUSP e pelo CFM, revelam que os estados com menor densidade de profissionais permanecem, em sua maioria, nas regiões Norte e Nordeste.

O Maranhão apresenta a menor taxa nacional, com 1,3 médicos por mil habitantes. Na sequência, aparecem o Pará (1,4), o Amapá (1,5) e o Amazonas (1,6). Mesmo após a interiorização de programas como o Mais Médicos, essas unidades federativas continuam com indicadores muito abaixo da média nacional, que gira em torno de 2,69 médicos por mil habitantes.

Por outro lado, o Distrito Federal lidera com 6,3 médicos por mil habitantes, seguido por Rio de Janeiro (4,3) e São Paulo (3,7). Essas regiões concentram hospitais de alta complexidade, universidades públicas e privadas com forte tradição acadêmica, além de oportunidades em centros de pesquisa e programas de residência médica.

A desigualdade se acentua ainda mais quando se observa a distribuição interna dentro dos estados. Em Sergipe, por exemplo, a capital Aracaju conta com cerca de 6 médicos por mil habitantes, enquanto municípios do interior registram menos de 0,3.

Embora o número total de médicos no Brasil tenha crescido nos últimos anos, a má distribuição geográfica compromete o acesso à saúde em regiões mais vulneráveis. Para o recém-formado, considerar essas estatísticas pode ser decisivo na hora de planejar os primeiros passos da carreira, especialmente para quem deseja atuar onde a demanda é maior e a presença médica, mais escassa.

Vale a pena ampliar a distribuição médica?

A resposta depende dos objetivos profissionais de cada médico.

Quem demonstra afinidade com a atenção primária, deseja atuar em comunidades vulneráveis e aceita os desafios estruturais das regiões afastadas encontra no interior uma possibilidade concreta de crescimento profissional.

Além disso, a atuação em áreas remotas amplia o protagonismo nas decisões clínicas e favorece a construção de vínculos sólidos com a população atendida. Em determinadas situações, o médico também consegue alcançar estabilidade financeira mais rapidamente, sobretudo em cidades com carência histórica de profissionais.

No entanto, o contexto exige cautela. Embora alguns municípios ofereçam incentivos pontuais, grande parte das prefeituras ainda evita a realização de concursos públicos. Em vez disso, opta por contratações temporárias ou pelo modelo de pessoa jurídica, o que elimina garantias trabalhistas e previdenciárias. Como consequência, muitos profissionais enfrentam atrasos salariais, instabilidade contratual e dificuldade para planejar a trajetória a longo prazo.

Além das condições de trabalho, o isolamento geográfico também impõe obstáculos à formação continuada. A escassez de eventos científicos, cursos de atualização e redes de pesquisa limita as possibilidades de qualificação, sobretudo para quem almeja especialidades mais concorridas ou carreira acadêmica.

A distância dos grandes centros compromete o acesso a tecnologias, exames de apoio diagnóstico e retaguarda hospitalar, o que exige ainda mais autonomia na tomada de decisões clínicas.

Diante desse cenário, vale lembrar que o Brasil não carece apenas de mais médicos, mas sim de uma distribuição mais equitativa dos profissionais já formados. Para estudantes e recém-formados, compreender essa realidade representa um passo fundamental na escolha consciente sobre onde e como iniciar a carreira.

O interior apresenta um cenário repleto de desafios, mas também oferece espaço para quem deseja fazer a diferença. Por isso, a escolha entre atuar em capitais ou em regiões afastadas vai além da geografia: trata-se de uma decisão estratégica, profissional e, frequentemente, política.

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