O surto de intoxicação por metanol em São Paulo colocou autoridades em alerta nesta semana: já foram confirmadas e investigadas mortes após consumo de bebidas possivelmente adulteradas com o metanol, e ao todo são 22 casos em apuração, um número que foge ao padrão anual do país. Além disso, há relatos de pessoas que perderam a visão e de estabelecimentos interditados durante as investigações.
Diferentemente de anos anteriores, quando a média era de cerca de 20 registros isolados em todo o Brasil, o cenário atual mostra uma concentração inédita de casos em uma única região. Isso acendeu um sinal de emergência para a saúde pública, mobilizando não apenas o governo estadual e municipal, mas também autoridades federais de segurança e investigação.
O que está por trás do surto de intoxicação por metanol em São Paulo?

As ocorrências por intoxicação envolveram clientes de bares (maioria jovens/adultos) e uma adega da capital, com vítimas de perfis diferentes, o que chamou a atenção dos órgãos de saúde e da segurança. Por enquanto, ao menos cinco mortes estão sendo contabilizadas entre casos confirmados e em investigação, e equipes recolheram centenas de garrafas e amostras para análise.
A Polícia Federal foi acionada para apurar a origem do produto e investigar possível relação com redes criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), enquanto o governo estadual instalou gabinete de crise e determinou interdições nos locais ligados aos episódios.
O que é o metanol e por que ele é perigoso?
O metanol é um álcool químico parecido com o etanol, porém muito mais tóxico. Quando ingerido, o fígado transforma-o em formaldeído (gás incolor, inflamável e de odor sufocante) e, depois, em ácido fórmico metabólitos que agridem células e órgãos, podem causar lesão da retina e, assim, levar à cegueira e até à morte.
Para proteger-se, as autoridades orientam: desconfie de bebidas com preço muito abaixo do mercado, rótulos desalinhados, lacres rompidos ou ausência do selo fiscal; evite produtos caseiros ou de procedência duvidosa. Os sinais iniciais de intoxicação podem parecer embriaguez, náusea, tontura e mal-estar, mas evoluem em horas para visão turva, dor abdominal, sonolência, confusão mental e, em casos graves, coma. Se houver suspeita, a orientação é procurar o atendimento médico imediatamente.
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O que dizem as autoridades diante da intoxicação por metanol?

O governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou em coletiva que investigações seguem em andamento e confirmou mortes suspeitas e inestigações para esclarecer. Ainda assim negou o metanol estar envolvido com o PCC.
“Muito tem se especulado sobre participação do crime organizado nessa adulteração de bebidas. Só para deixar claro, não há evidência nenhuma de que haja participação do PCC. Os inquéritos têm apontado pessoas que atuam de forma isolada em destilarias clandestinas, sem relação entre si e sem vínculo com crime organizado”, afirmou o governador.
Além disso, o chefe de Estado anunicou a instalação do gabinte de crise para acompanhar aa evoluação dos casos. “Vamos fazer a interdição cautelar de todos os estabelecimentos onde houve o consumo dessas bebidas. A partir dessa interdição cautelar, vamos aprofundar as investigações com a Polícia Civil e a Secretaria da Fazenda”.
Já o Ministério da Justiça determinou que a Polícia Federal verifique origens e possíveis conexões com crime organizado. Com isso, o diretor-geral da PF, André Rodrigues, explicou o envolvimento da PF nas investigações. “Além da questão da interestadualidade, há uma possível conexão com investigações recentes no Paraná, que se ligam a casos em São Paulo por meio da cadeia de combustíveis. Parte disso envolve a importação de metanol pelo Porto de Paranaguá”, disse ele.
O Ministério da Saúde emitiu alertas a hospitais e profissionais para identificarem rapidamente sintomas compatíveis. Por sua vez, a Secretaria de Segurança e outras forças também participam das ações de fiscalização e apreensão.
Tratamento e onde buscar ajuda
No atendimento de saúde, existem formas específicas de tratar a intoxicação por metanol. O medicamento mais indicado é o fomepizol, que impede que a substância cause ainda mais danos no organismo. Porém, quando ele não está disponível, o próprio etanol (o álcool presente nas bebidas comuns) pode ser usado pelos médicos como medida de emergência. Em casos mais graves, pode ser necessário recorrer a diálise, aparelhos para ajudar na respiração e outros cuidados intensivos.
O Brasil conta com os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), que oferecem orientação tanto para profissionais de saúde quanto para a população. Em São Paulo, esses canais de atendimento foram reforçados para dar suporte durante o surto. Por isso, se houver qualquer suspeita de ingestão de bebida adulterada, a recomendação é procurar ajuda médica imediatamente e acionar os contatos de toxicologia da sua região.
Portanto, é fundamental redobrar a cautela ao comprar e consumir bebidas alcoólicas: prefira sempre locais de confiança, evite produtos sem procedência clara e, diante de qualquer sintoma suspeito, não espere, pois, quanto mais rápido for o atendimento, maiores são as chances de salvar a visão e até a vida.